De Pelé a Del Piero todos iam à recruta
Nas últimas décadas, deixou de ser comum ver as maiores estrelas do futebol a fazer um hiato na carreira para cumprir o serviço militar... mas a realidade já foi bem distinta.
Basta ver o caso de um tal ‘Soldado Nascimento’ conhecido fora do contexto militar por... Pelé. O astro apresentou-se ao planeta em 1958, com 17 anos, ao conduzir a seleção brasileira ao título no Mundial na Suécia. Foram seis golos em quatro jogos plenos de magia que o tornaram numa celebridade. Estatuto que de nada lhe valeu quando, meses depois, foi chamado a cumprir o serviço obrigatório. Passou seis meses no Exército, sem direito a qualquer regalia, mas não deixou de brilhar dentro das quatro linhas. Durante esse período, fez parte da seleção militar brasileira, marcando 14 golos em 10 jogos no torneio militar sul-americano… incluindo o tento decisivo na final com a Argentina.
Em Itália, o serviço militar foi obrigatório até 2004 e os jovens craques tinham de cumprir os meses de recruta, ainda que tivessem um programa especial de treino para prevenir lesões e autorização para continuar a representar os respetivos clubes. E pelos quartéis italianos passou muito perfume futebolístico… às vezes em dose dupla. Paolo Maldini e Roberto Mancini cumpriram o serviço em conjunto em 1988, altura em que já eram titulares no Milan e Sampdoria, respetivamente. Em 1995, Fabio Cannavaro e Del Piero também entraram ao mesmo tempo e o entusiasmo foi tal que a imprensa apareceu em massa para o primeiro dia.
Mais dramática foi a passagem do mítico Bruce Grobbelaar. Antes de brilhar na baliza do Liverpool na década de 80, o guardião nascido no Zimbabué foi chamado a combater na guerra da Rodésia em 1975. “És tu ou eles. Quando se dispara o primeiro tiro não há volta a dar, começa um tiroteio por todo lado. Ouves os teus colegas a dizer que foram atingidos e assobias para que se calem. Quando os tiros acabam só vês corpos ao teu lado. Das primeiras vezes, tudo o que tiveres no estômago... sai te pela boca”, descreveu ao The Guardian em 2018.