APAV apoia vítimas em várias modalidades
Do futebol à ginástica acrobática, de atletas amadores a profissionais. São muitos os casos de violência em contexto desportivo acompanhados pela Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV). “Este fenómeno tem alguma relevância e afeta sobretudo mulheres”, revela, a Record, Carla Ferreira, assessora técnica da direção da APAV.
“No futebol, acaba por haver um maior equilíbrio no número das denúncias, até porque também existem mais homens a praticar”, explica ainda a também gestora da rede especializada que trabalha com crianças e jovens vítimas de violência sexual. “Vão-nos chegando alguns relatos em contexto de muitas modalidades. Para além do futebol, há casos no futsal, na dança ou na ginástica acrobática”, acrescenta Carla Ferreira, revelando que na maioria dos casos a violência
“ESTE FENÓMENO TEM ALGUMA RELEVÂNCIA E AFETA SOBRETUDO MULHERES. HÁ CADA VEZ MAIS DESOCULTAÇÃO DOS CASOS”
acontece “de forma continuada no tempo”.
Se, por um lado, qualquer denúncia preocupa, por outro Carla Ferreira revela um certo alívio por saber que as vítimas têm cada vez menos receio de pedir apoio. “Pelo volume de casos que nos chegam, vemos que há mais desocultação e um maior à vontade para se exporem as situações”, reflete a assessora da APAV, que não fornece dados relativos a esta problemática. Ainda que haja “muito a fazer”, Portugal tem tido “a preocupação de começar a regulamentar quer a prevenção, quer a resposta”. E
Carla Ferreira exemplifica: “Em dezembro, foi publicado um decreto-lei [nº 117/2023] que determina que os clubes devem ter sempre alguém responsável pela promoção dos direitos e proteção das crianças e jovens, a quem compete gerir e reportar situações de risco e perigo. Isto ajudará a que haja uma cultura diferente no contexto desportivo.”
Por isso, a APAV entende que estão a ser dados “alguns passos importantes”. “Há um caminho significativo a fazer, há ainda comportamentos que são tidos como normais, vistos como pertencentes ao processo de amadurecimento de um atleta, muitas atitudes são banalizadas. Mas somos todos potenciais agentes de mudança e todos podemos estar sujeitos a situações de crime. Há que ter a consciência de olhar e denunciar”, sensibiliza Carla Ferreira.