Record (Portugal)

O tempo e as dores dos outros

- O LADO PSICOLÓGIC­O Gaspar Ferreira Ordem dos Psicólogos Portuguese­s

As derrotas do Benfica e do FC Porto provocaram nos seus adeptos um sentimento de desilusão e desesperan­ça. Nas derrotas, o sentimento de perda traduz-se em reações de luto normais como tristeza, raiva, frustração e vergonha pelo ‘que poderia ter sido’. Estas emoções são reais, mas não resultam em nada verdadeira­mente dramático ou definitivo.

Drama real é o que se passa com o conflito em Israel: esta semana assisti com dor a uma reportagem da CNN na qual um pai israelita chorava os filhos que não via há seis meses. Yechiel Yehud, pai de 3 filhos, dois sequestrad­os pelo Hamas, dizia: “Não são seis meses. É um dia muito longo.” E numa outra passagem, agora com palestinia­nos, uma mulher, ao lado de um edifício em ruínas, lamentava não ter encontrado nada para tirar dos escombros e constatava que a sua infância e a sua família tinham desapareci­do.

Quando se perde um jogo há sempre mais desafios e campeonato­s para disputar. Cada um desses momentos será uma oportunida­de para viver e discutir novos dramas, da qual retiraremo­s alguma aprendizag­em e algumas emoções.

Na guerra, a violência substitui a linguagem e quando se perde uma vida isso não é reversível, deixando marcas emocionais profundas e indeléveis. A superação destes traumas e sentimento­s de perda vai exigir diálogo e complexos processos de cura e de reconcilia­ção. Para que a paz possa regressar, precisamos reconhecer a humanidade, e o tempo e as dores dos outros.*

PARA QUE A PAZ POSSA REGRESSAR, PRECISAMOS DE RECONHECER A HUMANIDADE

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