O tempo e as dores dos outros
As derrotas do Benfica e do FC Porto provocaram nos seus adeptos um sentimento de desilusão e desesperança. Nas derrotas, o sentimento de perda traduz-se em reações de luto normais como tristeza, raiva, frustração e vergonha pelo ‘que poderia ter sido’. Estas emoções são reais, mas não resultam em nada verdadeiramente dramático ou definitivo.
Drama real é o que se passa com o conflito em Israel: esta semana assisti com dor a uma reportagem da CNN na qual um pai israelita chorava os filhos que não via há seis meses. Yechiel Yehud, pai de 3 filhos, dois sequestrados pelo Hamas, dizia: “Não são seis meses. É um dia muito longo.” E numa outra passagem, agora com palestinianos, uma mulher, ao lado de um edifício em ruínas, lamentava não ter encontrado nada para tirar dos escombros e constatava que a sua infância e a sua família tinham desaparecido.
Quando se perde um jogo há sempre mais desafios e campeonatos para disputar. Cada um desses momentos será uma oportunidade para viver e discutir novos dramas, da qual retiraremos alguma aprendizagem e algumas emoções.
Na guerra, a violência substitui a linguagem e quando se perde uma vida isso não é reversível, deixando marcas emocionais profundas e indeléveis. A superação destes traumas e sentimentos de perda vai exigir diálogo e complexos processos de cura e de reconciliação. Para que a paz possa regressar, precisamos reconhecer a humanidade, e o tempo e as dores dos outros.*
PARA QUE A PAZ POSSA REGRESSAR, PRECISAMOS DE RECONHECER A HUMANIDADE