O meu 25 de Abril
Hoje, não poderia deixar de aproveitar esta oportunidade que o Record me proporciona para tecer algumas considerações, relativamente ao 25 de Abril.
Estava então no cumprimento do serviço militar obrigatório em Angola, integrado na 1ª Companhia do Batalhão de Artilharia 6321, numa localidade chamada Luvuei, situada no extremo leste do mapa de Angola e onde, em determinada altura, existiram significativas baixas para o nosso exército.
Quando o acontecimento nos chegou ao conhecimento, dias volvidos, ficámos atónitos. Uma grande maioria da companhia, não fazia sequer a ideia de que se tratava de uma revolução. Ficámos a aguardar por notícias oficiais, embora alguns dos meus camaradas, especialmente os da marge m sul do Tejo, estivessem melhor informados sobre o assunto.
Tivemos de aguardar, receber no nosso aquartelamento os elementos em separado da UNITA, MPLA e FNLA e aguardar por instruções do respetivo comando. Tivemos oportunidade de discutir com os nossos adversários as estratégias utilizadas enquanto inimigos, tendo recebido elogios pela nossa disciplina operacional, enquanto durou a guerrilha a que fomos submetidos. Regressámos a Portugal um ano depois do 25 de Abril.
Espero sinceramente que não esteja sujeito a qualquer tipo de indemnização para com os angolanos pelo facto de ter servido Portugal enquanto militar, ou que os meus filhos venham a ser responsabilizados, ou os filhos daqueles que exerceram funções na qualidade de Ministros do Ultramar ou Governadores Gerais num desses países ultramarinos.
Quando perdemos demasiado tempo a comer gelados acabaremos por não dar rumo a um conjunto de coisas de vital importância.