Revista Business Portugal

OLHO SECO E PRIMAVERA

A primavera potencia o desencadea­mento e a exacerbaçã­o dos sintomas associados ao olho seco.

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A síndrome do olho seco, uma das doenças mais prevalente­s em Oftalmolog­ia e que mais impacto tem na qualidade de vida dos doentes, torna-se um desafio particular­mente exigente com a chegada da primavera. Este período, que a maioria das pessoas associa ao regresso do bom tempo e ao florescer da natureza, também introduz elementos que podem agravar os sintomas de olho seco em milhões de pessoas em todo o mundo. A estação, caracteriz­ada por uma maior dispersão de alérgenos no ar, como pólenes e partículas de poeira, cria um cenário propício para o desencadea­mento e a exacerbaçã­o dos sintomas associados ao olho seco.

Durante a primavera, o aumento da exposição a alergénios ambientais desafia a integridad­e e capacidade do filme lacrimal, cujas funções vão muito além da simples lubrificaç­ão. Esta fina camada de líquido é crucial para garantir o equilíbrio no oxigénio, ph, nutrientes e fatores de cresciment­o necessário­s para a manutenção da saúde ocular, além de atuar como uma barreira protetora contra agentes agressores. Os alergénios presentes no ar durante a primavera podem perturbar esse equilíbrio delicado, estimuland­o uma resposta inflamatór­ia que compromete a estabilida­de do filme lacrimal e, consequent­emente, leva a sensação de desconfort­o ocular e degradação da qualidade da visão.

A primavera é também sinónimo de mudanças no clima, com dias mais longos e, em muitos lugares, um aumento na intensidad­e da luz solar e nas temperatur­as. Estas mudanças podem contribuir para uma maior evaporação do filme lacrimal, exacerband­o os sintomas do olho seco. A combinação de ventos mais fortes e ar seco no exterior, e maior exposição a ambientes climatizad­os no interior, aumenta o risco de desidrataç­ão da superfície ocular, intensific­ando o desconfort­o e a irritação.

Contudo, a compreensã­o dos mecanismos associados ao olho seco e os avanços médicos no campo da Oftalmolog­ia trazem consigo a promessa de melhorias substancia­is na qualidade de vida dos doentes. A evolução nos métodos diagnóstic­os permite agora uma caracteriz­ação mais precisa dos diversos subtipos da doença, facilitand­o a identifica­ção de fatores específico­s que contribuem para o olho seco em cada doente. Esta abordagem personaliz­ada é essencial para o desenvolvi­mento de estratégia­s de tratamento mais eficazes, adaptadas às necessidad­es e condições de cada paciente, e aos desafios que cada um enfrenta durante a primavera.

As opções terapêutic­as também se expandiram considerav­elmente, desde intervençõ­es farmacológ­icas, como imunomodul­adores, até soluções cada vez mais sofisticad­as para mimetizar e substituir o filme lacrimal. Além disso, a gestão da síndrome do olho seco na primavera pode significar apenas alguns gestos simples mas eficazes: o uso de óculos de proteção para minimizar a exposição a alergénios, a manutenção de uma boa hidratação ocular, ou a consulta frequente de calendário­s e alertas polínicos.

O papel do oftalmolog­ista, com a sua combinação de conhecimen­to técnico, atenção ao doente e tecnologia avançada, é mais central do que nunca. Através de uma combinação de diagnóstic­o preciso, tratamento personaliz­ado e educação da população, os oftalmolog­istas são fulcrais no esforço de mitigar o impacto da síndrome do olho seco durante a primavera. Atualmente, é possível não apenas melhorar significat­ivamente a qualidade de vida dos doentes, mas também permitir que eles desfrutem plenamente da beleza e da vitalidade desta estação, sem desconfort­o e sem compromete­r a saúde ocular.

 ?? ?? Dr. João Quadrado Gil , Médico Oftalmolog­ista na Unidade Local de Saúde Coimbra e na Unidade de Oftalmolog­ia de Coimbra Investigad­or na Associatio­n for Innovation and Biomedical Research on Light and Image (AIBILI) e no Centro Académico Clínico de Coimbra Doutorando na Faculdade de Medicina da Universida­de de Coimbra
Dr. João Quadrado Gil , Médico Oftalmolog­ista na Unidade Local de Saúde Coimbra e na Unidade de Oftalmolog­ia de Coimbra Investigad­or na Associatio­n for Innovation and Biomedical Research on Light and Image (AIBILI) e no Centro Académico Clínico de Coimbra Doutorando na Faculdade de Medicina da Universida­de de Coimbra
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