Uma nova forma de fazer política autoritária é...
...ENVOLVER O JORNALISMO NUMA NUVEM DE CONFUSÃO PARA TORNAR TUDO IGUAL E OCULTAR OS FACTOS
Conseguem perceber o que se passa com quase todos os aspectos da política americana que envolvem Trump e a sua família? É provável que não, se ainda tomam à letra o que eles dizem, sugerem, escrevem nas redes sociais, encomendam ao sistema mediático que vai da Fox News ao Drudge Report. Já há muito que estamos bastante longe da produção simples de notícias falsas, agora temos uma produção continuada de declarações contraditórias, de cortinas de fumo, lubrificando tudo com a selva das redes sociais, e depois com o upgrade da vozearia e do boato para “notícias”. Não é um processo inocente, nem um resultado das características do faroeste que hoje as redes sociais permitem. É o resultado de um trabalho profissional, organizado, deliberado, altamente pago, de várias “empresas” e agências de comunicação na rede, de “estrategos” e “consultores” políticos, a que se soma depois uma miserável subserviência política face ao poder.
No caso americano, é impressionante como os congressistas e os senadores republicanos são capazes de fazer as mais absurdas piruetas para justificarem tudo o que Trump faz, como uma multidão de comentadores e “jornalistas” a passearem-se na Fox News a aceitarem os argumentos mais imbecis e as contradições mais evidentes. A duplicidade é flagrante em quase tudo: imaginem que Obama ou Clinton diziam ou faziam um átomo do que
Trump faz e cairia o mundo todo de indignação furiosa. Quem define a agenda, o que deve ser dito ou não, aquilo que “interessa” e aquilo que não interessa, é em grande parte Trump nos seus tweets que tem esse papel: não, não falem da Rússia, falem das fugas de informação; não, não falem dos encontros da família Trump com dignitários russos, falem do computador dos “democratas” que estes não querem entregarao FBI, poraíadiante. O resultado é deliberado: é a desaparição de qualquer esboço ou esforço de jornalismo no meio de uma confusão deliberada, imediata, contínua, ocultadora. O que se passa é ofuscado, não há factos, nem eventos, apenas uma nuvem verbal de factos, factóides, contrafactos, “factos alternativos”, mentiras, falsidades, que acabam por se colocar todos no mesmo plano. Quem ganha é o infractor. Não me recordo de qualquer momento na História recente em que algo de semelhante se tenha passado ou esteja a passar-se, com esta guerra civil no terreno da opinião e dos media. Ela revela a importância que, de há muito, têm os
media na política das democracias, e mostra a perigosidade de uma ofensiva que usa métodos diferentes da censura clássica. Também usa a censura, mas o seu sucesso não é a ocultação, é a confusão que gera a ocultação. W