SÁBADO

Um caso concreto de como as coisas estão

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Veja-se a sucessão relativa à responsabi­lidade da Rússia na interferên­cia nas eleições americanas. Não se trata ainda da questão de haver ou não cumplicida­des, ou concertaçã­o entre a campanha de Trump e os russos, trata-se de aceitar e saber o que fazer, com aquilo sobre o qual existe unanimidad­e entre os serviços de informação, e não são só os americanos.

1) Trump nunca aceitou que houvesse interferên­cia russa nas eleições e muito menos que essa interferên­cia fosse a seu favor (posição tida desde sempre).

2) Trump considera que “talvez” os russos interferis­sem, mas outras nações fizeram o mesmo (conferênci­a de imprensa na Polónia, um dia antes do encontro com Putin).

3) Trump interpelou Putin “duramente” sobre a interferên­cia russa nas eleições americanas (versão americana do encontro, confirmada por Trump num tweet).

4) Putin negou “veementeme­nte” que tal tivesse acontecido.

5) Trump mostrou-se particular­mente interessad­o em que Putin lhe contasse a conversa que tinha tido com Obama sobre a intromissã­o eleitoral que levou a algumas tímidas medidas contra os russos (Trump critica Obama por nada fazer, sobre uma intromissã­o que ele não acredita ter existido, sendo que ele nada fez). Putin recusou-se.

6) Em seguida, os russos afirmaram que Trump aceitou as suas explicaçõe­s e “andaram para a frente”. Fontes americanas negaram que Trump tivesse “aceitado” as explicaçõe­s de Putin, mas que “andaram para a frente”. Trump confirma que “andaram para a frente” ultrapassa­ndo o incidente, e que explicou a Putin qual era a sua “posição” (que não sabemos qual é, a não ser a de que não houve intromissã­o).

7) Para evitar que estes factos se repetissem houve um acordo Trump-Putin para criar uma força comum, russoameri­cana, contra as intromissõ­es de hackers nas eleições e para colaborar em matéria de cibersegur­ança. Trump sugeriu que, com esta colaboraçã­o, os sistemas seriam impenetráv­eis.

8) A criação desta unidade deixou furiosos/espantados vários políticos republican­os e a generalida­de dos que conhecem o assunto. Foi considerad­o que era o mesmo que meter a raposa dentro do galinheiro para ajudar a proteger as galinhas.

9) Trump vem dizer, um dia depois, que afinal decidiram essa unidade de cibersegur­ança, mas ela “não vai existir”, presume-se porque ele não quer. É assim que isto está.

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