SÁBADO

Diário de um banana (e de uma sociedade cruel)

Um clássico inglês do século XIX, escrito pelos irmãos Grossmith, chega a Portugal pelas mãos de Ricardo Araújo Pereira

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Osétimo livro da colecção Humor, da Tinta-da-china, sob coordenaçã­o de Ricardo Araújo Pereira (RAP) é uma incursão pela sociedade inglesa de finais de oitocentos. Os autores são dois irmãos: George e Weedon Grossmith.

George (1847–1912) foi o típico rapaz com piada que depois fez disso uma carreira bem-sucedida nos palcos e nos jornais – uma espécie de RAP. O inglês e o português até têm em comum uma passagem pelo jornalismo. Weedon (1854-1919) teve uma carreira semelhante à do irmão. Nos dois havia paixões e carreiras paralelas: George pelo piano e Weedon pela pintura (não é por acaso que o livro vem com ilustraçõe­s da sua autoria) O esboço deste Diário de um Zé-Ninguém começou numa revista chamada Punch entre 1888 e 1889. Mais tarde, em 1892, foram desafiados para fazer daquilo uma coisa séria. Embora se chame diário e se estruture como diário (não há capítulos, apenas anotações do que o narrador viveu durante 15 meses), foi lançado como romance e mantém-se um clássico em Inglaterra. Tratando-se de um país com tantas tradições no género, não é dizer pouco.

Mais do que um zé-ninguém, o protagonis­ta deste livro, o homem que escreve o diário, Charles Pooter, é sobretudo desprovido de alguma inteligênc­ia e receptácul­o de muito azar nas pequenas coisas da vida (quedas, nódoas, avarias, gafes, e por aí fora), incluindo o sustento de um filho que é um perfeito exemplo de estroinice.

Ao longo de 200 páginas vamos acompanhan­do a vida rotineira de Charles, a sua mulher, a criada, os amigos de casa (em Londres) e todas as personagen­s da vida social e profission­al (ainda que não seja dito exactament­e o que faz) com que se cruza.

Nenhuma delas parece perder uma oportunida­de para gozar com o pobre e desastrado Pooter, quando não para o enganar. A brincar, a brincar, os autores vão fazendo um cruel retrato de uma Inglaterra que a todo o vapor se preparava para entrar na era moderna do século XX. Especialme­nte de uma certa classe média com pretensões de subir na vida.

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DIÁRIO DE UM ZÉ-NINGUÉM GEORGE E WEEDON GROSSMITH Tinta-da-china • 208 págs. €19,90 George Grossmith, um dos irmãos. Foi um dos grandes artistas populares ingleses do século XIX

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