MOBY & THE VOID PACIFIC CHOIR O ÁLBUM DO ANO… DE 1987
Comecemos por uma breve lista de coisas que tornam Moby admirável: a conjugação da sua dimensão ética e estética; um espiritualismo libertário, que não se agarra a fórmulas; o veganismo ou a defesa acérrima dos direitos dos animais. Moby tem tudo para ser interessante, mas nem sempre corresponde a esse potencial. Começou por ser o artista “pseudo pós-moderno”, de inspiração punk e espírito DIY, que começou a “fuçar” nos anos 80, teve repercussão comercial no final dos anos 90 e, nos anos seguintes, pouco ou nada acrescentou ao que fizera anteriormente. A somar a isso, o carácter maniqueísta das suas músicas que facilmente se convertem num relambório algo básico e simplista. Agora, com uma banda de suporte (The Void Pacific Choir) – e depois de ter ensaiado este formato no seu disco anterior (These Systems are Failing, de 2016) –, Moby aposta novamente no regresso às suas raízes punk, sem nunca esquecer a música electrónica. More
Fast Songs About the Apocalypse (MFSA) é ilustrativo dessa realidade: música rápida, de inspiração punk, regada com doses industriais de electrónica, mas sem nunca perder de vista as fórmulas mais básicas que possibilitem um eventual sucesso comercial (o que é, na prática, uma espécie de antítese do punk…). Verdade seja dita, se MFSA tivesse sido editado em 1987 seria possivelmente o álbum do ano: uma espécie de síntese entre os New Order, os Sister of Mercy, com reminiscências de Joy Division e a desbravar caminho para os Nine Inch Nails. Infelizmente para Moby, o ano é 2017. No que respeita à temática, MFSA reflecte as angústias do costume: à cabeça, as suas crenças (que muitas vezes Moby parece querer impingir de uma forma quase moralista, o que torna a sua música algo evangelizadora) e a sua nova demanda anti-Trump (que nem é assim tão controversa e muito menos original). Tudo isto converte o disco numa espécie de colectânea de música adolescente feita por um DJ de meia-idade. MFSA é Moby em modo “criação de hinos instantâneos” e é certamente um álbum que funcionará muito bem em concerto… pelo menos até o público começar a gritar por Porcelain (Play, 1999).