SÁBADO

MOBY & THE VOID PACIFIC CHOIR O ÁLBUM DO ANO… DE 1987

- FILIPE LAMELAS CRÍTICO

Comecemos por uma breve lista de coisas que tornam Moby admirável: a conjugação da sua dimensão ética e estética; um espiritual­ismo libertário, que não se agarra a fórmulas; o veganismo ou a defesa acérrima dos direitos dos animais. Moby tem tudo para ser interessan­te, mas nem sempre correspond­e a esse potencial. Começou por ser o artista “pseudo pós-moderno”, de inspiração punk e espírito DIY, que começou a “fuçar” nos anos 80, teve repercussã­o comercial no final dos anos 90 e, nos anos seguintes, pouco ou nada acrescento­u ao que fizera anteriorme­nte. A somar a isso, o carácter maniqueíst­a das suas músicas que facilmente se convertem num relambório algo básico e simplista. Agora, com uma banda de suporte (The Void Pacific Choir) – e depois de ter ensaiado este formato no seu disco anterior (These Systems are Failing, de 2016) –, Moby aposta novamente no regresso às suas raízes punk, sem nunca esquecer a música electrónic­a. More

Fast Songs About the Apocalypse (MFSA) é ilustrativ­o dessa realidade: música rápida, de inspiração punk, regada com doses industriai­s de electrónic­a, mas sem nunca perder de vista as fórmulas mais básicas que possibilit­em um eventual sucesso comercial (o que é, na prática, uma espécie de antítese do punk…). Verdade seja dita, se MFSA tivesse sido editado em 1987 seria possivelme­nte o álbum do ano: uma espécie de síntese entre os New Order, os Sister of Mercy, com reminiscên­cias de Joy Division e a desbravar caminho para os Nine Inch Nails. Infelizmen­te para Moby, o ano é 2017. No que respeita à temática, MFSA reflecte as angústias do costume: à cabeça, as suas crenças (que muitas vezes Moby parece querer impingir de uma forma quase moralista, o que torna a sua música algo evangeliza­dora) e a sua nova demanda anti-Trump (que nem é assim tão controvers­a e muito menos original). Tudo isto converte o disco numa espécie de colectânea de música adolescent­e feita por um DJ de meia-idade. MFSA é Moby em modo “criação de hinos instantâne­os” e é certamente um álbum que funcionará muito bem em concerto… pelo menos até o público começar a gritar por Porcelain (Play, 1999).

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MOREFASTSO­NGS ABOUTTHE APOCALYPSE Electrónic­a • Ed. Little Idiot €13,99 (Fnac); também disponível gratuitame­nte
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