PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS HÁ QUE TOMAR PARTIDO
Para quê estudar o sistema partidário, isto é, o conjunto de interacções de competição e de cooperação entre os partidos de um sistema político? A resposta de Carlos Jalali, professor de Ciência Política na Universidade de Aveiro, parece ser esta: porque conhecer o sistema de partidos ajuda a compreender melhor a democracia, bem como a centralidade dos partidos no regime democrático. Num momento em que os partidos políticos, um pouco por toda a Europa, sofrem de uma má reputação, por vezes justificada, por vezes não, parece ser uma reflexão importante para discernirmos os limites, não só do regime democrático representativo, mas também dos que devemos impor a nós mesmos, cidadãos, quando vocalizamos as nossas frustrações e o nosso descontentamento.
O livro procura ser uma introdução ao tema, começando pelos inevitáveis Lipset e Rokkan, com o fundacional modelo explicativo dos sistemas de partidos que recorria às “clivagens sociais”, ou diferenças de antagonismo, que podiam ser socio-económicas ou de outro cariz, como as religiosas ou as “nacionais”. Sem clivagens sociais era como se os partidos não conseguissem criar raízes de continuidade e identidade. É verdade que o desenvolvimento desta ciência da política passou todo pelo modelo de Lipset, mas hoje o modelo é tão iluminador quanto redutor. Talvez o limite não esteja exactamente na abordagem de Lipset e antes na perspectiva positiva global que confere à política uma estrutura e dinâmicas deste tipo. O que se faz é organizar taxonomicamente uma realidade “política” que se considera prioritária sobre todas as outras e, de certo modo, primacial. E por aí nos ficamos. Quando não ficamos, partimos para a história ou para a teoria política.
No final, Jalali faz algumas considerações sobre o sistema de partidos português. Ao falar do PSD, Jalali dá algumas razões por que historicamente se tornou este o grande partido que se viabilizou fora da órbita da esquerda. No entanto, não aborda uma das hipóteses sistémicas mais interessantes, a de que no período pós-revolucionário o projecto do PCP – o estabelecimento de um regime soviético totalitário no País – e o do PS – a bipolarização do sistema futuro em torno dos socialistas e dos comunistas – terem soado a uma aberração inaceitável para a sociedade portuguesa.