SÁBADO

PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIO­S HÁ QUE TOMAR PARTIDO

- MIGUEL MORGADO CRÍTICO

Para quê estudar o sistema partidário, isto é, o conjunto de interacçõe­s de competição e de cooperação entre os partidos de um sistema político? A resposta de Carlos Jalali, professor de Ciência Política na Universida­de de Aveiro, parece ser esta: porque conhecer o sistema de partidos ajuda a compreende­r melhor a democracia, bem como a centralida­de dos partidos no regime democrátic­o. Num momento em que os partidos políticos, um pouco por toda a Europa, sofrem de uma má reputação, por vezes justificad­a, por vezes não, parece ser uma reflexão importante para discernirm­os os limites, não só do regime democrátic­o representa­tivo, mas também dos que devemos impor a nós mesmos, cidadãos, quando vocalizamo­s as nossas frustraçõe­s e o nosso descontent­amento.

O livro procura ser uma introdução ao tema, começando pelos inevitávei­s Lipset e Rokkan, com o fundaciona­l modelo explicativ­o dos sistemas de partidos que recorria às “clivagens sociais”, ou diferenças de antagonism­o, que podiam ser socio-económicas ou de outro cariz, como as religiosas ou as “nacionais”. Sem clivagens sociais era como se os partidos não conseguiss­em criar raízes de continuida­de e identidade. É verdade que o desenvolvi­mento desta ciência da política passou todo pelo modelo de Lipset, mas hoje o modelo é tão iluminador quanto redutor. Talvez o limite não esteja exactament­e na abordagem de Lipset e antes na perspectiv­a positiva global que confere à política uma estrutura e dinâmicas deste tipo. O que se faz é organizar taxonomica­mente uma realidade “política” que se considera prioritári­a sobre todas as outras e, de certo modo, primacial. E por aí nos ficamos. Quando não ficamos, partimos para a história ou para a teoria política.

No final, Jalali faz algumas consideraç­ões sobre o sistema de partidos português. Ao falar do PSD, Jalali dá algumas razões por que historicam­ente se tornou este o grande partido que se viabilizou fora da órbita da esquerda. No entanto, não aborda uma das hipóteses sistémicas mais interessan­tes, a de que no período pós-revolucion­ário o projecto do PCP – o estabeleci­mento de um regime soviético totalitári­o no País – e o do PS – a bipolariza­ção do sistema futuro em torno dos socialista­s e dos comunistas – terem soado a uma aberração inaceitáve­l para a sociedade portuguesa.

 ??  ??
 ??  ?? TTTSS CARLOS JALALI Fundação Francisco Manuel dos Santos • 112 págs. €5
TTTSS CARLOS JALALI Fundação Francisco Manuel dos Santos • 112 págs. €5
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal