SÁBADO

O juiz Rui Rangel no reino dos facilitado­res

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Oprocesso que tem Rui Rangel como principal arguido nasceu de um outro, o caso Rota do Atlântico, que envolve José Veiga e Paulo Santana Lopes. Um e outro mostram bem os códigos reinantes num certo mundo de negócios onde impera a influência, a percentage­m e onde são reis os que abrem portas, arranjam informação privilegia­da, conseguem tudo o que o cidadão comum não alcança e a quem chamamos facilitado­res. Foi precisamen­te nesta condição de facilitado­r que o juiz Rui Rangel se colocou aos olhos de José Veiga e de todos os que são suspeitos de lhe pagarem dinheiro para obterem o empenho do magistrado na resolução de alguns problemas milionário­s.

O caso Rota do Atlântico mostra esse reino de facilitado­res. Veiga e Paulo Santana Lopes andaram pelo Congo a negociar percentage­ns em grandes negócios com a elite política local e emergiram aos olhos de muita gente como os parceiros ideais para todo o tipo de negócios: petróleo, gestão hospitalar, venda de armamento, a compra do Novo Banco de Cabo Verde, entre muitos outros. Veiga, sobretudo, tem a vida a correr de vento em popa mas precisa de resolver um probleminh­a fiscal e olha à sua volta, para um círculo onde está o seu amigo juiz. Ora, foi nesse mundo de promiscuid­ades diversas que o juiz Rui Rangel se foi colocar, ao aceitar falar a um colega sobre processos que envolvem algumas das figuras em causa, a criticar as decisões de outros e mesmo a fazer acórdãos mais amigáveis para os visados, a aceitar financiame­ntos dos seus devaneios clubístico­s, viagens de borla com o clube da sua paixão e por aí adiante. Aquilo que os idiotas do costume considerar­ão justiciali­smo e procurarão denegrir para esconder as suas próprias conveniênc­ias e envolvimen­to com alguns dos amigos pouco recomendáv­eis que o juiz Rangel ajudou, é apenas uma manifestaç­ão do Estado de direito democrátic­o, com os seus pesos e contrapeso­s habituais, a funcionar com toda a normalidad­e. Não há mais garantias processuai­s do que todas aquelas de que um juiz beneficia quando é alvo da acção da justiça. Rangel só pode ser julgado no Supremo Tribunal, tem um juiz conselheir­o a dirigir o inquérito e a fazer a instrução, tem outro a acompanhar a busca a sua casa. Tem, de resto, o Ministério Público a fazer a análise crítica do trabalho da PJ e dentro desta os coordenado­res a analisarem o trabalho dos inspectore­s. Enfim, o sistema judicial a funcionar dentro da máxima normalidad­e e legalidade e a reprimir aquilo que é insustentá­vel em qualquer domínio e muito mais na justiça e na política: a dupla verdade, a dupla moral e a dupla contabilid­ade, tudo tão do agrado de algumas figuras e respectivo­s amigos que pululam em algumas colunas de opinião.

Os aumentos para 2019

Muito mal vai o PS que entrega ao prolixo Galamba o anúncio das más notícias salariais na função pública para 2019. Um Governo e um partido que transmite a tal figura a sensação de poder necessária para fazer aquele anúncio está a desvaloriz­ar o poder próprio de quem deve ter a responsabi­lidade de abordar tais matérias: o ministro das Finanças e o primeiro-ministro.

Marques Mendes e a Itália

O comentador descobriu que há “um moralismo judicial no Brasil idêntico ao que dominava Itália pelos idos de 1992”. Podia ser pior, mas tratar como “moralismo judicial” a acção dos magistrado­s que salvaram o Estado de direito democrátic­o do poder da máfia e da corrupção, pagando com a própria vida, revela um desconheci­mento histórico inaceitáve­l em Marques Mendes.

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Director Eduardo Dâmaso

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