SÁBADO

As nuvens negras da cloud

- Pedro Marta Santos

Depois das “sinergias” e dos “vasos comunicant­es” da linguagem empresaria­l

nos anos 90, os políticos soltam agora o palavreado das TIC (Tecnologia­s de Informação e Comunicaçã­o) com o entusiasmo sonoro de um pré-adolescent­e que trinca Peta Zetas. Eurico Brilhante Dias, o secretário de Estado que se acha mais brilhante do que é possível vislumbrar, passou o fim-de-semana nas nuvens (a cloud

dele é enorme), em êxtase 4.0 do clusterda autocompla­cência graças a um triunfo que não lhe pertence: a Google, espécie de Deus com rosto de HAL 9000, vai instalar um centro de operações em Oeiras que, além de atender telefonema­s, talvez desenvolva apps, criando 535 postos de trabalho. Com uma sucursal da Amazon prestes a chegar ao – Rui Moreira sic – “ecossistem­a” do Porto (serão as tripas uma espécie ameaçada?), trata-se de duas pílulas da felicidade para um corpus colectivo maníaco-depressivo – ora somos os maiores da História, ora somos os piores do mundo.

Neste ambiente de cloud computing, analytics, bigdata e parolice digital, continua a esquecer-se que a maior indústria do futuro não são as telcosouo hardware ,maso software.

A produção dos utilizador­es das redes sociais não são conteúdos, são apenas um fluxo infinito online do que somos. O stock, aquilo que fica, depende de milhares de indivíduos e de empresas que imaginam os jogos, as séries, os filmes, as canções, os ebooks e a galáxia de ficções interactiv­as que consumimos. Somos bons a atrair e a reproduzir engenheiro­s e especialis­tas em tecnologia­s de informação. Mas os criativos onde estão? E o sistema educativo para os gerar?

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