As nuvens negras da cloud
Depois das “sinergias” e dos “vasos comunicantes” da linguagem empresarial
nos anos 90, os políticos soltam agora o palavreado das TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação) com o entusiasmo sonoro de um pré-adolescente que trinca Peta Zetas. Eurico Brilhante Dias, o secretário de Estado que se acha mais brilhante do que é possível vislumbrar, passou o fim-de-semana nas nuvens (a cloud
dele é enorme), em êxtase 4.0 do clusterda autocomplacência graças a um triunfo que não lhe pertence: a Google, espécie de Deus com rosto de HAL 9000, vai instalar um centro de operações em Oeiras que, além de atender telefonemas, talvez desenvolva apps, criando 535 postos de trabalho. Com uma sucursal da Amazon prestes a chegar ao – Rui Moreira sic – “ecossistema” do Porto (serão as tripas uma espécie ameaçada?), trata-se de duas pílulas da felicidade para um corpus colectivo maníaco-depressivo – ora somos os maiores da História, ora somos os piores do mundo.
Neste ambiente de cloud computing, analytics, bigdata e parolice digital, continua a esquecer-se que a maior indústria do futuro não são as telcosouo hardware ,maso software.
A produção dos utilizadores das redes sociais não são conteúdos, são apenas um fluxo infinito online do que somos. O stock, aquilo que fica, depende de milhares de indivíduos e de empresas que imaginam os jogos, as séries, os filmes, as canções, os ebooks e a galáxia de ficções interactivas que consumimos. Somos bons a atrair e a reproduzir engenheiros e especialistas em tecnologias de informação. Mas os criativos onde estão? E o sistema educativo para os gerar?