SÁBADO

Ingvar Kamprad (1926-2018)

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Está tudo por fazer, sempre”, escreveu Kamprad no seu Testamento de um Vendedorde Móveis, em que explicava, em nove passos, a sua doutrina da gestão do tempo – para ele o bem mais precioso desde que, em miúdo, o pai se queixou dos seus atrasos matinais: comprou um despertado­r, marcou o alarme para as seis e depois arrancou o botão de desligar. Nunca mais se atrasou. Não espanta que nesse livro – escrito aos 50 anos e que sintetiza o que o empresário, que raramente deu entrevista­s, quis que se soubesse da sua vida – aconselhe as pessoas a dividirem os seus dias em períodos de 10 minutos e a nunca os desperdiça­rem, porque “se pode fazer muito em 10 minutos e, uma vez passados, não se podem recuperar”.

O seu sucesso atestava a eficácia da sua filosofia. Para os suecos, ele era a personific­ação do sonho americano na Escandináv­ia por ter erguido um império do nada, embora sofresse de um distúrbio muitas vezes limitador: dislexia. Foi por não se deixar vencer por ela que conseguiu a soma inicial para, em 1943, montar uma empresa de vendas por catálogo chamada IKEA (sigla do seu nome próprio e apelido, Ingvar Kamprad, mais os nomes da quinta e da localidade onde nasceu, Elmtaryd e Agunnaryd): no fim do liceu, por ter conseguido boas notas apesar da dislexia, o pai premiou-o com 100 coroas suecas (o equivalent­e a 10 euros), aos quais ele juntou as suas poupanças e, mais tarde, o único empréstimo bancário que – gabava-se – alguma vez contraiu, de 500 coroas, para importar canetas de Paris. Foi o seu primeiro êxito. A dislexia também esteve na origem dos nomes dos móveis IKEA. “Ele não conseguia decorar os códigos numéricos do que vendia, portanto começou a dar-lhes nomes de coisas”, contou a irmã de Kamrad ao Daily Mirror. É por isso que as cadeiras são homónimas de homens, as camas de sítios na Noruega, os sofás de cidades na Suécia e assim por diante – com as estantes Billy, cujo preço nos vários países já serviu de referência para calcular taxas de câmbio, à cabeça.

Com 5 anos vendia fósforos, com 10, peixe e decorações de Natal, e tinha 17 quando fundou a IKEA, que se tornou a maior cadeia de mobiliário do mundo. Morreu com 91 anos, rico mas frugal

Omultimili­onáriopoup­adinho

Ingvar Feodor Kamprad nasceu a 30 de Março de 1926, numa quinta em Agunnaryd, na província de Småland – que, por lhe recordar a própria infância, deu nome ao espaço infantil da cadeia IKEA. Filho de camponeses pobres (o pai era de ascendênci­a alemã, filho de imigrantes), aprendeu cedo o valor do trabalho árduo e da frugalidad­e: recusava-se a gastar mais do que precisava, mesmo depois de enriquecer, chegando a ser alvo de chacota por voar em companhias low-cost, como testemunho­u o Daily Mail em 2008, comprar roupa em segunda mão e conduzir um Volvo velho. Aos 80 anos, já multimilio­nário – segundo a Bloomberg, era o oitavo homem mais rico do mundo, com uma fortuna de 46,4 mil milhões de euros, à data da sua morte, no último sábado, 27 de Janeiro, “depois de breve doença, rodeado da família” –, pernoitou numa pensão barata de Lisboa e fez o trajecto de Alfragide à Baixa num autocarro da Carris. Reza a sua biografia oficial que começou a vender fósforos aos vizinhos com 5 anos, que aos 10 se expandiu, a pedalar na sua bicicleta, negociando, porta a porta, deco-

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