A batota
voltou a ser abordado na sala do TCIC quando a procuradora Sara Sobral perguntou ao arguido se, para “resolver os problemas” nas Finanças, não teria contactado “mais alguém”. Mas a prudência da magistrada foi interrompida pela impaciência do juiz de instrução: “Ó senhor José Veiga… antes de ir para intervalo para o senhor pensar com os seus advogados… vou ser directo, porque eu não pratico esta táctica… vou directo ao problema: é ou não verdade que reuniu com o dr. Rui Manuel Freitas Rangel, juiz desembargador do Tribunal da Relação de Lisboa, no sentido de agilizar uma solução para o processo que tem no Tribunal Administrativo e Fiscal de Lisboa?” Perante o tom do juiz, José Veiga acabou por se recordar do encontro. “Queria limpar o meu O funcionário judicial detido é suspeito de manipular os sorteios da distribuição de processos na Relação nome e disse-lhe ‘fale lá, vocês juízes são todos amigos’. Mas eu já o conheço [Rangel]: ele fala e depois nada”, disse. No longo interrogatório de 13h28, é manifesto que Carlos Alexandre não gostou do tom defensivo de José Veiga. Depois de lhe recordar que Paulo Santana Lopes (com quem Veiga trabalhava, inclusive nos negócios com o Congo) revelara que o encontro serviu para Rangel relatar o “resultado das diligências” desenvolvidas, o juiz enfatizou: “Quero ver isto esclarecido!”
A ligação a Angola
Veiga respondeu-lhe de foram tímida – “Ele ficou de ver...” – mas foi interrompido, desta vez, pela procuradora Susana Figueiredo. A magistrada do MP recordou que Paulo Santana Lopes tinha utilizado a expressão “não há almoços grátis” para descrever o encontro no Ritz, e acrescentou: “Na magistratura, não é normal juízes e procuradores andarem a saber da tramitação de processos. Pergunto de forma muito directa: o senhor juiz Rui Rangel faz-lhe estas simpatias a troco de quê?”
Foi então que Veiga avançou mais um pouco: “Do futebol… ele acha que pode precisar de mim para o apoiar e financiar uma futura campanha ao Benfica. Ele está cego pelo Benfica.” Para finalizar, os três magistrados quiseram ainda saber se uma verba de cerca de 300 mil euros alegadamente saída das contas de José Veiga com destino a Bernardo Santos Martins, filho do advogado José Santos Martins, estaria relacionada com aquelas simpatias, mas José Veiga alegou, várias vezes, falta de memória para reconstituir e justificar tal movimentação financeira. A acreditar nos actuais desenvolvimentos da Operação Lex, a PJ terá conseguido deslindar parte deste novelo que envolve Rui Rangel. E terá também centrado as atenções no processo fiscal que envolveu José Veiga. No entanto, há ainda outro dado que consta nas investigações: alegados contactos entre Rangel e um suposto emissário do antigo banqueiro, Álvaro Sobrinho, o advogado e ex-presidente da Federação Portuguesa de Futebol, João Rodrigues. Rangel foi um dos vários juízes que em 2015 acabou com o arresto de dezenas de imóveis de Sobrinho que fora decretado pelo MP e pelo juiz Carlos Alexandre. Na passada terça-feira, acabado de regressar de Luanda, o advogado João Rodrigues também foi constituído arguido na Operação Lex.