AMODADE NÃOVACINAR OSCÃES
Donos dizem que vacinas podem causar doenças. Veterinários preocupados alertam para os perigos.
Taxa de mortalidade: quase 100%. Sintomas: alucinações, espasmos, salivação excessiva, paralisa ou dificuldade de engolir. A raiva – doença descrita desde a antiguidade clássica e que recebeu este nome porque se acreditava ser causada por um demónio que possuía os animais – era até apelidada de loucura. Por ser tão mortal, esta doença, comum em cães, ratos e morcegos, é a única de vacinação obrigatória em Portugal para os amigos de quatro patas. Motivo? É transmissível a humanos.
Desde 1956 que está oficialmente erradicada em Portugal, mas o que poderá suceder se a moda norte-americana de não vacinar os animais ganhar terreno? “Seria um retrocesso civilizacional e um risco muito grande para a população. Ainda assim não temos registo dessas situações em Portugal”, diz à SÁBADO Jorge Cid, bastonário da Ordem dos Médicos Veterinários. Foi concretamente em Nova Iorque que começou a tendência, segundo o alerta de vários veterinários que revelaram haver donos de cães que se recusam a vaciná-los. O seu argumento? As vacinas causariam artrite, anemia e parvovirose. Também se juntaria ao cocktail de possíveis doenças o autismo. Mas os cães podem ser autistas? Não há provas disso. “Não sei onde vão buscar essas ideias”, remata Jorge Cid. O certo é que em Nova Iorque os veterinários começam a ficar preocupados. “Temos recebido cada vez mais clientes que não vacinam os seus animais. Isto é o reflexo da tendência antivacinação em crianças”, explicou a veterinária Amy Ford, de uma clínica em Nova Iorque, ao site Daily Beast.
As notícias destas ligações – que não estão comprovadas cientificamente – aparecem nas redes sociais e em revistas para cães, como a Dogs Naturally Magazine, que diz que “66% de todos os cães doentes começam a sentir-se assim três meses depois da vacinação”. Jorge Cid contrapõe: “Hoje as vacinas são cada vez mais seguras, claro que podem existir reacções pontuais pós-vacina – febre ou descontrolo motor – mas é mais perigoso não vacinar do que o contrário.”
Cães vegetarianos?
As pessoas têm hoje uma relação cada vez mais próxima com os seus animais de estimação – 56% de lares portugueses têm, pelo menos, um animal de companhia, segundo a empresa de estudos de mercado GfK – e começam a moldá-los aos seus comportamentos.
O veterinário Jorge Cid revela até que já há registo de donos que querem que os seus cães sejam vegetarianos. “Os animais de companhia, cães e gatos, são como pessoas da família, vivem muito perto dos donos, e as pessoas transportam para eles os hábitos de vida e de alimentação. Se são vegetarianos ou vegans, aplicam isso aos cães. Mas isso não é saudável, há riscos nutricionais, a proteína faz falta ao animal”, conclui.