Rhye e o abecedário da sedução
Como é que se pode sensualizar ainda mais o mundo depois de Woman? Foi isso que tentámos saber à conversa com Rhye, ou seja, Mike Milosh, com novo disco a chegar ao mercado a 2 de Fevereiro: Blood
Um encontro descomprometido entre Milosh e Robin Hannibal está na origem de Rhye. Daí nasceu Woman (2013). Entretanto Hannibal abandonou o projecto e Milosh assumiu toda a responsabilidade do segundo álbum, Blood, com edição a 2 de Fevereiro. As centenas de actuações ao vivo desde a estreia convenceram-no a sair do seu quarto e a gravar as novas canções em estúdio, com outros músicos. Blood é mais meloso e afectuoso do que o seu antecessor, envolvente e pessoal. Milosh transforma as vivências dos seus últimos dois anos em poderosos gestos sonoros de sedução: a sua música toca e quer ser tocada – com os dedos, com as mãos, com todo o corpo.
Quando Rhye surgiu em 2012 com o single Open, existia algum mistério à volta do projecto. Foi intencional, uma manobra de marketing?
Na minha perspectiva nunca foi um mistério. Bastava googlar o meu nome e existiam imensas fotografias minhas. Eu já tinha álbuns editados como Milosh. Creio que os media encararam como um projecto-mistério e depois o público entendeu-o como tal. Na altura, eu não queria fazer muita imprensa. A Polydor tinha planeado uma série de entrevistas e eu não estava muito interessado nisso. Queria que as pessoas ouvissem a música e não me preocupava com a imagem de celebridade que a Polydor queria criar. Comecei a sentir Rhye como algo fabricado, por isso achei melhor afastar-me disso e deixar que as pessoas ouvissem a música e formassem as suas impressões.
E estava à espera do sucesso que atingiu?
Claro que não. Gravei o Woman no meu quarto. Pensei que seria mais um álbum que iria editar. Mas vendi milhares de discos, toquei 476 concertos de um disco com 40 minutos. É ridículo. Quando o gravei nem sequer imaginei que isto iria acontecer. Optou por produzir Blood em estúdio. Essa vontade nasceu de tocar tantas vezes ao vivo? Sem dúvida. Após tantos concertos fiquei com vontade de gravar músicas que me soassem mais vivas, isto é, que não tivesse que traduzir o que programei no Logic para instrumentos reais. Queria gravar um álbum que fizesse mais sentido quando o tocasse ao vivo: que tivesse bateria, sintetizadores, piano. Usámos um órgão Hammond B-3 em muitas canções. Por exemplo, na Waste uso um B-3. O som é lindíssimo quando estás a gravá-lo, é algo imenso, quase como estar a mastigar uma goma: o som é