SÁBADO

Edmundo Pedro, a vida de um resistente

Era o último tarrafalis­ta vivo. Sobreviveu à cadeia, à tortura e até

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Em Setembro de 2007, Edmundo Pedro foi a Cabo Verde. Acompanhou Elísio Summaviell­e, presidente do IGESPAR, e Isabel Pires de Lima, ministra da Cultura, que estavam ali para apoiar a candidatur­a da Cidade Velha a património da Unesco. Pagou a viagem e a estadia do seu bolso. Ficou um dia da deslocação guardado para irem com Edmundo Pedro à prisão do Tarrafal, apesar de a viagem até lá serem quatro horas num jipe aos saltos. Na véspera, Edmundo, já com 88 anos, tropeçou numa escada, caiu, abriu a cabeça e teve de levar uns pontos. A comitiva apanhou um susto, o médico que o tratou recomendou-lhe repouso. No dia seguinte, quando Elísio Summaviell­e desceu para a sala do pequeno-almoço do hotel, às 7h30, já Edmundo lá estava: “Então quando é que vamos?” Tentou o que pôde: “Olhe que tem que ficar em repouso.” Não resultou: “Ah, não fico nada.”

Não ficou, recorda Sumavielle, agora administra­dor do CCB. Foi e fez-lhes uma visita guiada, pessoal, ao campo onde foi dos 152 primeiros prisioneir­os a entrar, com 17 anos, com o pai. E de onde saiu aos 27 e com tuberculos­e (aí, por uma vez, teve sorte: o tratamento para a doença acabara de ser descoberto). “Tudo, ele explicava tudo ao pormenor, onde era cada coisa, cada edifício, onde faziam o quê, onde estava o Bento Gonçalves”, o histórico dirigente do PCP, que ali morreu. Viu ali morrer 33 pessoas. “Chorou e emocionou-se várias vezes.” Mas sem amargura: “Saiu de lá

EM 2007 QUIS IR AO TARRAFAL. NEM UMA QUEDA E UNS PONTOS NA CABEÇA NA VÉSPERA O IMPEDIRAM

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Era o último sobreviven­te da mais dura prisão política do Estado Novo

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