SÁBADO

José Pacheco Pereira

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…mas não consigo interessar-me pela política portuguesa nestes dias. Ou melhor: não consigo interessar-me pela política portuguesa que vem nos jornais e passa na televisão. Pelo contrário, não há número do New York Times ,oudo Washington Post que de uma ponta a outra não me pareça interessan­te. Até a culinária deles, quando a de cá me faz avançar páginas e páginas das revistas e jornais portuguese­s cheias da culinária, da gastronomi­a, dos restaurant­es, o que significa com o modismo da comida nos nossos dias que leio menos de metade do que há para ler. Posso comprar um espesso jornal ou revista, que passeio sobre ele um enorme desinteres­se. Insisto, o mal pode ser meu e tudo aquilo brilhar de interesse, novidade e qualidade de escrita e eu não dar por ela. Passo assim por ser um miserável snobe, um elitista que acha bom tudo o que é estrangeir­o e despreza a Pátria. Talvez, embora desprezar a Pátria não me parece. Mas que interesse tem uma política que se caracteriz­a pelo atentismo de tudo e todos pela crise que há-de vir, pelo Diabo que pelos vistos foi passar as férias às Caraíbas destruídas pelos furacões? Marcelo continua a ser o que era, mais 10 mil beijinhos em cima, Costa continua um “optimista irritante”, Cristas e Catarina estão no mesmo registo tribunício, Jerónimo está apanhado pelo mesmo labirinto de vozes e palavras sem eco. A comunicaçã­o social propriamen­te dita constitui uma fonte cada vez mais importante de política, assim como o Ministério Público, mas as regras são tablóides. Apesar de haver algum ruído, até o ruído está cansado.

De facto que interesse tem para a Polis que um governante ou um deputado tenham ido a um jogo de futebol a convite de um clube e se veja nisso uma tenebrosa conspiraçã­o de corrupção. Alguém acredita que Centeno perdoou umas dívidas fiscais à família do presidente do Benfica e depois lhe disse: “veja lá se me manda o pagamento”, ou a “propina” se for em Angola que o trato se fez, ou uns “ovinhos” ou umas galinhas para eu fazer uma sopinha, ou uns bilhetes para o jogo do Benfica na tribuna presidenci­al? Mas se ninguém acredita e duvido muito sinceramen­te que alguém acredite pelo menos que o pagamento tenha sido feito em bilhetes para o jogo, porque é que a gente, jornalista­s, comentador­es, políticos, procurador­es, perdem o seu tempo precioso com isso que de corrupção nem sequer tem uns fumos. Uma resposta é que de facto não acham que o seu tempo é precioso, a outra é que não têm mais nada para fazer.

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