Nuno Rogeiro
Trás-os-Montes, onde a vida é dura e a esperança maior. De Miranda do Douro, no leste, a Quirás e Pinheiro Novo, no norte. Da setentrional Moimenta a Poiares, no extremo sul. Da ocidentalíssima Castanheira a Paradela, a oriente. No meio, são dezenas, ou centenas, de vilas, aldeias, povoações ou meros lugares, que constituem, no mapa territorial da Igreja Católica, os arciprestados de Mirandela, Bragança, Miranda e Moncorvo.
Aqui viviam, até há poucos anos, cerca de 140 mil almas e corpos. É uma terra portuguesa que às vezes fica por conhecer, mas que se torna um sinal de grandes problemas e desafios, longínquos de manchetes e luzes da ribalta.
D. José Cordeiro, bispo de Bragança-Miranda (na foto), percorreu durante quatro anos a sua diocese, que integra todas aquelas parcelas, e veio dar nova do que viu, ouviu e sentiu. Não foi aquele País desenvolvido, jovem, ultrapovoado, dinâmico, com habitação fácil ou especulada, razoavelmente protegido pelo Estado, que veio descobrir este prelado natural de Angola, muito querido na terra. Foi antes uma nação valente, mas pobre, cada vez mais despovoada e ignorada, cada vez mais idosa e abandonada.
Uma nação onde há infra-estruturas razoáveis, e até inovadoras para a época, mas onde faltam pessoas para as guarnecer, fazer funcionar, torná-las reversíveis para as povoações locais que restam.
É um Portugal ainda de emigrantes, ou de retornados da emigração que, devido às condições difíceis, cedo regressam ao estrangeiro, ou viajam para o litoral com armas e bagagens, filhos e pais, em busca da civilização urbana e de uma vida mais fácil e mais feliz.