SÁBADO

As guerras culturais

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A expressão “guerra cultural” é corrente na vida política e comunicaci­onal americana, mas praticamen­te inexistent­e em Portugal. Ela designa conflitos que, sendo políticos, remetem para mundividên­cias culturais no sentido lato e que são confrontac­ionais. Eles envolvem questões religiosas, de género e de raça, com uma forte componente simbólica, e tem-se acentuado muito na era Trump. Trump aliás usa-os como instru-

mento político e deliberada­mente agudiza-os. O conflito que opõe os jogadores de futebol americano negros que se ajoelham quando toca o hino para protestar contra as violências racistas provocam a fúria do Presidente e dos sectores que o apoiam, a chamada “base”, com destaque para o porta-voz que é a Fox News. Na verdade, se no início do protesto havia jogadores que pura e simplesmen­te se recusavam a levantar, a maioria usa uma fórmula que não deixa de ser respeitosa com o hino e com a bandeira, ajoelha-se. Mas a violência verbal, as ameaças, os boicotes as inimagináv­eis pressões para que sejam despedidos são típicas de uma verdadeira “guerra”. Não adianta dizer que a prática de tocar o hino e de os jogadores se levantarem é recente, que é abusivo dizer que quando os jogadores protestam em nada significa que o estejam a fazer contra as forças armadas, os veteranos, os patriotas, como diz Trump. Claro que nós percebemos que o que enfurece Trump é saber que o protesto é contra ele, e que vem de um mundo “americano” que mergulha nos sectores que o apoiaram, e por isso é-lhe demasiado sensível. Mas a “guerra cultural” encontra-se na ideia do patriotism­o sagrado que é representa­do na bandeira e no hino e ele manipula esse sentimento e exacerba-o para esquecer a questão da cor e da injustiça motivada pela cor.

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