OS ANOS DA INOCÊNCIA – CRÓNICAS DA FAMÍLIA CAZALET
HISTÓRIA DE FAMÍLIA
Já era altura de os portugueses conhecerem a romancista inglesa Elizabeth Jane Howard (1923-2014), até agora inédita em Portugal. Autora de romances, ensaios e uma autobiografia corrosiva, Elizabeth Jane Howard foi durante muitos anos vista como “a mulher” de Kingsley Amis, que foi seu terceiro marido. Porém, o enteado, Martin Amis, nunca subestimou a importância da obra da madrasta. E não está sozinho nos encómios. A recente publicação do primeiro volume do quinteto Os
Anos da Inocência vai ser com certeza uma grata surpresa.
Elizabeth Jane Howard foi vítima do preconceito que menorizava a escrita de mulheres, sobretudo se, como é o caso, os temas centrais não fossem fracturantes (como à época os de Simone de Beauvoir). Pelo contrário, Elizabeth
Jane Howard preocupou-se em descrever pessoas, hábitos, costumes e situações comuns. E nem por isso deixou de ser uma mulher emancipada. A par de vários casamentos e affairs episódicos, teve ligações amorosas com o poeta Cecil Day-Lewis e
Arthur Koestler. A história da família Cazalet, nos anos que vão de 1937 a 1956, preenche os cinco volumes desta saga familiar de classe alta. Por enquanto estamos em 1937-38. O Verão na casa do Sussex foi atribulado. Cada um dos quatro filhos de Kitty e William Cazalet (Hugh, Edward, Rachel e Rupert) tem idiossincrasias muito próprias, e a única rapariga, que é solteira, até tem um segredo. O negócio das madeiras está em declínio, mas, naquele Verão, ninguém quer pensar em desgraças. Nem a sombra da guerra iminente matiza a despreocupação do clã. Um espírito cínico dirá que se trata de um microcosmo à Downton
Abbey, actualizado, mas isso não constitui óbice, porque Elizabeth Jane Howard consegue ser, ao mesmo tempo, subtil e penetrante no modo como efabula a intriga e dispõe as personagens. Fazer votos para que sejam rapidamente traduzidos e publicados os restantes volumes:
Marking Time (1991), Confusion (1993), Casting Off (1995) e All Change (2013). Entretanto, se lermos com atenção, não será despiciendo encontrar pontos de contacto entre Elizabeth Jane Howard e Jane Austen.