ALIAS MARÍA CRIANÇAS-SOLDADO
Dois anos e meio após a estreia na secção Un Certain Regard do Festival de Cannes, chega-nos este filme colombiano sobre um aspecto crucial mas pouco comentado da guerra civil que há muito assola o país sul-americano: as crianças-soldado. War Witch (2012), do canadiano Kim Nguyen, e Beasts of No Nation (2015), do norte-americano Cary Fukunaga, foram os últimos trabalhos de ficção dignos de relevo sobre o recrutamento, manipulação e escravização de crianças e adolescentes para conflitos armados.
Tal como em War Witch, a protagonista desta longa-metragem, Maria (Karen Torres), é uma miúda de 13 anos, grávida de 4 meses, que faz parte das forças de esquerda em luta contra os paramilitares governamentais. Tanto Karen como a maior parte dos intérpretes são amadores com experiência do conflito, acrescentando verismo a um registo quase em forma de docudrama – os diálogos são esparsos, o olhar sem julgamento de facções ou personagens, o ambiente realista, com raros recursos melodramáticos. Maria tem uma relação vagamente amorosa com Maurício, um soldado jovem adulto – que fronteiras de consentimento existem numa miúda de 13 anos nestas circunstâncias? – e é mandatada para proteger o filho recém-nascido do comandante da milícia até a aldeia segura, mas a revolta do tratamento desigual cresce (todas as outras recrutas são obrigadas a abortar), e os acontecimentos precipitam-se.
O director José Luís Rugeles não é desprovido de talento atmosférico mas, a meio da narrativa, pelas dificuldades de empatia com personagens algo esquemáticas, a distância instala-se.