SÁBADO

UMA JANELA DO PORTO PARA O LESTE

- FILIPA TEIXEIRA

É uma das poucas palavras comuns a todas as línguas eslavas e, neste caso, não podia estar mais bem empregue. “Janela” para a rua – com a sua grande montra envidraçad­a – e para a cultura do Leste é a forma que o OKNA assume no Porto. O espaço é inaugurado este sábado com a exposição Utopia – Uma Triko(to)m(ia) na Memória, de Teresa Vieira, mas as novidades não se ficam por aqui.

Antes do OKNA já André Lameiras e Radu Sticlea tinham organizado no Porto um festival de cinema da Europa do Leste, cuja noite de abertura, no Rivoli, teve lotação esgotada. O BEAST – estreado em 2017 e com segunda edição garantida para o fim de Setembro – foi o ponto de partida para o português de 29 anos e o romeno de 24 construíre­m “uma ponte entre estas duas Europas que se desconhece­m mutuamente”.

Trazer a cultura contemporâ­nea de lá para cá é uma das prioridade­s do OKNA, que, nas palavras de André, quer surpreende­r com propostas inesperada­s e que contrariem a “imagem folclórica”, muitas vezes fantasiosa, do Leste – e nem tudo são kalinkas ou katiushas para lá da cortina.

No sentido inverso, este espaço propõe-se ser uma alavanca para novos artistas nacionais darem corpo às suas ideias e para as mostrarem nos países eslavos, os mesmos que ao nome Portugal ainda associam (em muitos casos) a etiqueta redutora de “destino de férias”. André sabe bem do que fala. Viveu em duas ocasiões diferentes na Polónia (em Erasmus e depois no mestrado) e em 2015 mudou-se para a Roménia com Radu – que conheceu “por acaso” no Porto – para trabalhar no Centro de Informação Europe Direct, em Timisoara. Lá cooperou com a embaixada de Portugal na Roménia, organizand­o debates e exposições, uma das quais à volta das cem fotografia­s a cem azulejos que Radu, com formação em publicidad­e e audiovisua­l, tirou, nos seus últimos cem dias no Porto. Regressara­m à cidade portuguesa por vontade própria – “porque nos apeteceu” – e fundaram em 2016 a associação PLUS East, a mãe do BEAST e, agora, também do OKNA.

Já com várias actividade­s em agenda – de oficinas de animação para crianças a um workshop de fotografia nocturna com o realizador romeno Alexandru Ponoran, uma mostra de ilustração e filmes dos Bálticos

(ArtAmalgam) coordenada por Isabela Olaru ou um clube do livro mensal, dinamizado por Mona Al-Ariqi (os três ligados ao projecto Eramsus+ East2West) – é com Utopia: Uma Triko(to)m(ia) na Memória que o OKNA abre, já no sábado, dia 7. Nesta exposição de vídeos, áudios e fotografia­s recolhidas

em Chernobyl, a artista Teresa Vieira – também office manager da produtora russa Phenomen Films e designer do Parlamento Europeu – explora o sonho e os grandes ideais perdidos da antiga URSS, “miragens que se desvanecer­am ao longo dos tempos, mas que marcaram décadas de vivências”. A exposição distribuir-se-á de forma tripartida pelo espaço, também ele tripartido e prestes a inaugurar também um bar com produtos da Europa. A ideia é que “as pessoas se deixem estar no OKNA, descontrai­damente, seja a trabalhar ou a conviver”.

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A sensação de abandono impõe-se nas imagens de Chernobyl da artista Teresa Vieira, na exposição inaugural
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André Lameiras e Radu Sticlea são os mentores do OKNA

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