MADAME DA COZINHA PARA A SALA
Para conceber e finalizar uma boa sátira social, é necessária uma mistura de sentido férreo de compaixão e de maldade espontânea (pensem em Lubitsch, Billy Wilder ou, num campeonato mais onírico, Buñuel). A francesa Amanda Sthers, nesta sua segunda longa-metragem, parece compreender o clássico chauvinismo gaulês e uma certa sobranceria que a abundância de dinheiro proporciona, mas não compreende mais nada. Bob (Harvey Keitel) e Anne (uma deliciosamente detestável Toni Collette) são americanos ricos a viver numa belíssima mansão parisiense da família dele, embora a conta bancária definhe: é necessário vender a jóia da coroa, um Caravaggio. Anne organiza um jantar com a elite de Paris e Londres, mas é supersticiosa, são 13 à mesa, pede à empregada de sempre, a espanhola Maria (Rossy de Palma) que ocupe um lugar e David Morgan, um irlandês negociante de arte, apaixona-se por Maria, julgando tratar-se de uma prima do Rei Juan Carlos. Havia condições para uma comédia ácida sobre as divisões de classe que persistem na Europa, mas Sthers, evocando a hipocrisia das comédias românticas com censuráveis finais felizes, acaba por cair em todas as armadilhas desse mainstream.v DE AMANDA STHERS Fra. • Comédia dramática • M12 • 91m Com Harvey Keitel e Toni Collette