O LAMENTO
O HOMEM NO TOPO DO BOSQUE
Chega às salas portuguesas com dois anos de atraso, mas por alguma razão se diz que mais vale tarde do que nunca: O Lamento é um extraordinário filme de terror, um épico sobre a força demolidora do mal, que não oferece tréguas durante duas horas e meia. Na Hong-Jin demonstra uma incrível capacidade para criar tensão usando todos os elementos disponíveis: o cenário da aldeia de Gonksung, na Coreia do Sul, é quase anacrónico, com ruas não alcatroadas, pequenas casas perto do abandono e trilhos que sobem o bosque até onde aquele estranho japonês se esconde; a música de Dalpalan e Jang Young-yu e a fotografia de Hong Kyung-pyo são tão sufocantes como o desenrolar da narrativa e a montagem de Kim Sun-min cruza sequências fulcrais com tremenda eficácia. Não há aqui os truques habituais dos filmes do género, o terror surge anunciado e é bem melhor por isso. Jong-goo é um polícia numa localidade onde vários homicídios sangrentos são ligados a uma estranha doença que acaba por contagiar a sua própria filha. Na Hong-jin, que escreveu também o argumento, desconstrói o estereótipo ocidental do herói – Jong-goo é cobarde e incompetente, um homem comum que foge perante aquilo que não compreende, o que lhe permite injectar, de forma sempre orgânica, estranhos momentos de humor negro em situações de pânico e desespero. O Lamento conquista um lugar ao lado do melhor trabalho de Bong Joon-Ho – Memories of Murder (2003) eM other – Uma Força Única (2009), em particular – onde personagens óptimas permitem que os limites da verosimilhança desapareçam. Tudo pode acontecer e em tudo se acredita.