Um drama com 20 anos
Ahistória de alegada negligência médica que publicamos esta semana revelou-se à jornalista Lucília Galha quando ela recebeu à 1h da manhã de 3 de Abril uma mensagem: “Ligue-me por favor, acho que tenho um bom tema para si.” Era um contacto de um trabalho anterior que lhe queria contar a história de Paula Zoio, sua amiga. Paula queria falar agora por causa do que tinha acontecido com o Hospital de Famalicão – condenado a pagar uma indemnização por negligência num parto. Uma primeira conversa telefónica mostrou uma mulher calma e pronta a reviver toda a sua história, 20 anos passados. Mas foi uma mulher inesperadamente nervosa que a jornalista encontrou. Começou por enumerar os pontos que considera fundamentais em tudo o que aconteceu – tinha-os escrito à mão numa folha A4 – e repetiu-os até à exaustão. Afinal, 20 anos nunca bastariam para emprestar normalidade a uma história tão dramática como a que pode ler a partir da pág. 64.
De Pêro Vaz de Caminha a Aleixo
Foi já no fim da entrevista de quase duas horas que Joaquim Romero Magalhães revelou ao editor-executivo Carlos Torres dois pormenores. O primeiro foi a emoção com que no ano 2000 levou para o Brasil, nas celebrações dos 500 anos da descoberta, a carta de Pêro Vaz de Caminha escrita a 22 de Abril de 1500: “Sabe lá o que foi levar o documento da Torre do Tombo até ao aeroporto de Lisboa e depois para o Brasil. Foi uma odisseia, não queriam que saísse, eu é que consegui. Tive a carta na mão, foi uma emoção. Está em muitíssimo bom estado, é um papel grosso, a tinta não é corrosiva. Apesar de ter sido escrita no barco tem uma letra bonita, certinha.” O outro episódio foi sobre o papel que o seu pai teve para que os poemas de António Aleixo fossem publicados em livro. “Ele declamava poemas no café Calcinha, em Loulé, e o meu pai, que era professor de Português no liceu, conheceu-o lá e começou a recolher os poemas. Uma vez o poeta foi almoçar a nossa casa, nos anos 40, eu devia ter uns 6 anos. Como ele tinha tuberculose, não me deixaram chegar junto dele. Aliás, a minha mãe até deitou fora a loiça onde ele comeu.”
Um excêntrico lisboeta
A entrevista com o fenómeno musical lisboeta Conan Osiris foi combinada em cima do joelho, com três horas de antecedência, e ele nem queria saber onde seriam feitas as fotos. Acabou por marcar para a Estufa Fria, no dia seguinte. Perto do fim da conversa, depois de saber que o seu último disco fora gravado em casa, o jornalista Markus Almeida perguntou-lhe se não faria sentido ser fotografado no seu estúdio em casa. “Estúdio em casa?!”, riu-se o músico, que tinha ao lado o dançarino João Moreira, que o acompanha ao vivo. “O meu estúdio é um quarto de arrumações de coisas da minha mãe onde está um colchão que abafa o som para a vizinha.” Uma figura diferente para conhecer a partir da pág. 86.