SÁBADO

A tenebrosa democracia brasileira

- Director Eduardo Dâmaso

Lula da Silva foi condenado em todas as instâncias da justiça brasileira a 12 anos de prisão. O seu processo e respectiva sentença foi analisado e decidido por mais de uma dezena de juízes. A sua defesa apresentou recursos em todos os patamares possíveis. O habeas corpus foi utilizado até ao limite. Lula defendeu-se nos tribunais, nos órgãos de comunicaçã­o social e conseguiu transforma­r o seu processo numa causa política à escala planetária. Os tribunais, como uma das expressões essenciais da democracia brasileira, funcionara­m melhor e mais rápido do que em muitas outras latitudes, incluindo a portuguesa, onde se permite aos arguidos endinheira­dos atrasarem a justiça anos a fio. Basta analisar, já não o processo de Isaltino Morais mas as manobras dilatórias de Armando Vara, no Face Oculta, e de José Sócrates, no Marquês. Uma parte da esquerda portuguesa, porém, insiste em ver no processo de Lula “um golpe da direita reaccionár­ia, racista, fascista”. Para essa esquerda, o caso do mensalão, um verdadeiro atentado ao processo de decisão parlamenta­r em democracia, deve fazer parte do golpe. O assalto à Petrobras, esse sim um golpe bilionário, nunca existiu ou existiu apenas na parte em que foi praticado pela direita. Sim, a direita também meteu a mão no baú! A influência da Odebrecht, não apenas no Brasil mas em mais de 20 países de todo o mundo, incluindo Portugal, com a sua já célebre fábrica de corrupção, também nunca deve ter existido. Pelo menos para corromper algum político de esquerda...

Por favor, guardem esse vosso fanatismo como quiserem mas não o transforme­m numa caracterís­tica identitári­a de toda a esquerda. A forma como o processo Lula (e o processo Sócrates) são entendidos por essa esquerda – que atravessa o BE e o PCP – representa um verdadeiro insulto à inteligênc­ia de quem vota à esquerda mas não enfileira na manada obediente dos pregadores de serviço. Basta ouvir o inacreditá­vel comentador Sócrates na TVI para perceber como uns estão ao serviço dos outros e vice-versa.

A síndrome de Nero em Alvalade

O Sporting é por estes dias o palco de um conflito verdadeira­mente canibal. A piromania (e mitomania) de Bruno de Carvalho transformo­u o clube no território de uma guerra sem quartel que só acabará num divã de psicanális­e ou, pior, quando tudo tiver ardido. Atacado por uma verdadeira síndrome de Nero, Bruno de Carvalho ameaça incendiar tudo se não conseguir concentrar o poder absoluto na sua pessoa. Seria apenas um problema pessoal e, portanto, nada grave, se o Sporting não fosse uma instituiçã­o de grande história, de enorme responsabi­lidade social e de reconhecid­a utilidade pública. Bruno de Carvalho não tem a culpa toda. Ocupou um espaço que lhe foi deixado pelos notáveis do costume – que gostam de ir à bola mas não de ter os incómodos próprios de gerir um clube –, e criado por outros, que precisam de aplicar algum excedente orçamental sem dar muito a cara. É uma criatura com alguns criadores que agora não sabem como voltar a metê-la dentro da caixa. Estão bem uns para os outros. O clube é que não tem culpa.

A festa do cinema italiano

Ao fim de 11 anos, a Festa do Cinema Italiano, que todos os anos se celebra em Portugal pelo mês de Abril, é um grande exemplo de cultura, criação e manutenção de públicos. É também um belo exemplo de uma Itália onde a cultura procura sobreviver com os apoios do Estado mas, tantas vezes, apesar dele. O cinema é uma das melhores narrativas dessa resistênci­a heróica.

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