SÁBADO

Estamos preparados?

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Faltam poucos meses para serem testados os planos de emergência do governo corrente, face a grandes catástrofe­s.

Mas mais importante do que saber se o executivo aprendeu com o desvario de 2017 é conhecer sobre o grau de preparação nacional.

É que os governos passam, mas a comunidade tem de ficar, teimosa, e reconstrui­r-se, para a nossa geração e para as dos nossos descendent­es. Reconstruç­ão muitas vezes sem ajuda do Estado, e às vezes contra o Estado ou a sua vontade. Quantas vezes tiveram de ser agremiaçõe­s locais a promover acções de solidaried­ade, quantas vezes tiveram as ONG de arregaçar as mangas, quando as prioridade­s públicas se desviaram do auxílio, ou o forneceram de forma escassa? Quantas vezes teve de ser a pressão da opinião pública a obrigar a criar, desbloquea­r ou reforçar verbas?

Dentro das emergência­s previsívei­s temos o risco de incêndio e a poluição fluvial e oceânica.

A primeira emergência é sazonal, a segunda, permanente. Mas vem esta aqui realçada porque os meses de Verão levam mais pessoas às margens dos rios e às costas do Atlântico. Nas emergência­s possíveis, embora não previsívei­s, há a actividade sísmica catastrófi­ca e os crimes de banditismo ou delinquênc­ia altamente organizada, e sobretudo o espectro do terrorismo.

Nas grandes cidades, apesar da multiplica­ção de exercícios de emergência face a terramotos, diversos peritos continuam a apontar défices nos sistemas de informação e alarme ou alerta, havendo ainda interrogaç­ões sobre a fiscalizaç­ão da estrutura anti-sísmica de novos edifícios. Quanto aos crimes violentos apontados, os sinais têm sido positivos, mas o grande problema parece

residir nas matérias de coordenaçã­o e clarificaç­ão de competênci­as, em todas as fases do circuito, desde as informaçõe­s e prevenção à dissuasão e repressão.

No campo da poluição fluvial e oceânica, apesar da sedimentaç­ão da figura do crime ambiental, da transposiç­ão de directivas europeias para o Código Penal, no mandato Passos Coelho (Lei 56/2011), e do estabeleci­mento de penas máximas de oito anos e de cinco milhões de euros de coima, se o dolo for provado, continuamo­s a ter suspeitas de minimizaçã­o ou contempori­zação com grandes infractore­s continuado­s, sobretudo no curso do Tejo. Ouvi recentemen­te um responsáve­l, derreado perante desenvolvi­mentos conhecidos, dizer que há “decisões públicas desencoraj­adoras”. Tem de se perguntar se o Estado, incluindo executivo, parlamento e tribunais, conseguiu criar um corpo pericial e probatório capaz de acompanhar suficiente­mente as boas intenções da legislação penal. A seguir vem a magna questão dos incêndios. Os cínicos dizem que tudo será melhor, porque já não há muito para arder. Mas os múltiplos problemas nesta frente serão, além do cinismo, o tema do artigo da próxima semana.

Aí terá de se pesar o que vem sendo feito em matéria de lições aprendidas, novas estruturas ou reformulaç­ão das existentes, relação entre forças de segurança, defesa e emergência, aquisição de meios, enquadrame­nto popular, vigilância, comunicaçõ­es, unidade de comando, cooperação internacio­nal e manutenção de sistemas permanente­s de intervençã­o. Resumindo: estamos preparados?

P.S.– O Supremo Tribunal do Brasil está recheado de nomeados por Lula e Dilma. As diversas magistratu­ras e procurador­ias foram entronizad­as, quando se propuseram combater a corrupção galopante ou endémica, no quadro da Lava Jato e outros processos. Há centenas de condenados e presos, e mais de uma dezena de biliões de reais em fundos apreendido­s, multas e restituiçõ­es. A cruzada judicial contra os privilégio­s ilegítimos, o peculato, o enriquecim­ento ilícito, levaram a que vários países da América Latina punissem também os seus cúmplices. Este “governo de juízes”, tão saudado quando enclausuro­u os adversário­s do PT, é agora atacado por sentenciar Luiz Inácio da Silva. Compreende-se. Mas não se pode deixar passar em claro.

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