Arrabidine
A FAMÍLIA LIMA FORTUNA dedica-se desde 1950 a produzir o Arrabidine (tinto ou branco), a que chama “o segredo dos monges da Arrábida”. Sem comercialização nos últimos 30 anos, este licor está de volta, numa série de garrafas que replica as primeiras que a família usou, nos anos 50, em vidro pirogravado. Feito por métodos artesanais, a partir da colheita, a cada ano, à mão, de bagas exclusivas da serra da Arrábida e com um estágio de três a cinco anos em tonéis antigos, este licor terá nascido na segunda metade do século XVI, no Convento de Nossa Senhora da Arrábida, inaugurado em 1542, quando os frades, já depois de terem explorado a rica flora da serra vizinha de Setúbal e Azeitão, concluíram que a melhor forma de aproveitar e conservar mais tempo as propriedades digestivas e curativas daquelas bagas específicas, seria utilizá-las num licor. Porém, com a extinção das ordens religiosas em Portugal, em 1834, os frades foram obrigados a deixar o convento. Uma minoria conseguiu ficar na região, pedindo abrigo a uma família abastada – eo monge licorista, guardião da fórmula do Arrabidine, que logo começaram a produzir, foi um deles. Foi, portanto, a essa família que, em 1950, Emídio Fortuna comprou a fórmula, as garrafas originais e os tonéis de envelhecimento, para começar a comercializar este digestivo conventual distintivo, dulcíssimo, próximo da ginja (que, aliás, a casa Lima Fortuna também produz, sob a designação Ginjeira, juntamente com o Bicabagaço, que junta licor de café e bagaceira), mas de aroma mais intenso e frutado. Só que na década de 80 a empresa familiar concentrou-se na produção de refrigerantes e passou a fazer Arrabidine “apenas por graça, de vez em quando”, para consumo doméstico. Agora está de regresso – em edição especial que assinala a data 1834 nas garrafas, para celebrar o momento em que o licor transpôs as portas do convento. Duarte, filho de Emídio, é o mestre licorista, e a neta, Sofia, dirige o projecto – em nome da tradição.