DANÇA É TRABALHO, É PRAZER, É COMUNICAÇÃO
Escape de muitos, que enchem as pistas, noite adentro, fruto do labor de outros, que no palco convertem emoções em movimentos, mas também vivência, para tantos de puro prazer, lazer e entretenimento, oposta portanto à ideia de trabalho, a dança é o objecto de Companhia, novo espectáculo (criado por encomenda) de João dos Santos Martins – com a mesma equipa de Projecto Continuado, de 2015 – em estreia no Teatro Maria Matos, em Lisboa, no sábado, 14 de Abril. Assim, Ana Rita Teodoro, Clarissa Sacchelli, Daniel Pizamiglio, Filipe Pereira, Sabine Macher e o próprio João dos Santos Martins co-assinam e interpretam a coreografia, idealizada em sucessivas residências, em diferentes espaços, com o objectivo de prosseguir os processos de colaboração e investigação iniciados em 2015 e já então marcados por relações de afecto e labor – que transitam para este Companhia, que segundo os autores “investe esteticamente na ideia de dança enquanto trabalho, utilizando, para isso, casos de estudo que examinam, por exemplo, a sistematização do movimento operário na relação estabelecida com as máquinas, de onde surge um conceito de coreografia enquanto tecnologia ou prótese”.
Não só: como o título indicia, aqui aborda-se ainda o modo como a dança, enquanto símbolo de produção recíproca de prazer (do espectador e também do bailarino), difícil de identificar socialmente como trabalho, se interliga com a ideia de “companhia”. Por um lado, é em companhias que os artistas a tornam labor. Por outro, dança é companhia, enquanto condição de ser e estar com o outro e forma de providenciar amizade ou prazer a um grupo de pessoas numa sociedade.