Entrevista com os The Plastic People, banda vencedora do concurso EDP Live Bands de 2017
Quem o diz são os Plastic People, vencedores do EDP Live Bands em 2017, em entrevista ao GPS. A banda de Alcobaça, conterrânea dos The Gift ou dos Stone Dead, já tem o álbum de estreia quase pronto
São quatro rapazes criados em Alcobaça, amigos de longa data, que venceram a última edição do EDP Live Bands e no ano passado deram concertos em dois dos maiores festivais da Península Ibérica, o NOS Alive, em Algés, e o MadCool, em Madrid – e conquistaram tudo isso em dois anos. Agora preparam-se para lançar um álbum com a Sony Music (um dos prémios do concurso), o que motivou a conversa do GPS da SÁBADO (parceira oficial da iniciativa) com João Tiago (teclas) e André Frutuoso (guitarra), dois dos membros da banda, que se completa com João Gonçalo (voz) e Johnny Walker (baixo), já que o baterista, Filipe Tanqueiro, saiu recentemente.
Todos eles tiveram outros projectos antes de criarem este grupo de música alternativa no início de 2016 e já se conheciam há muitos anos: andaram juntos nas escolas de Alcobaça, a maioria no mesmo grau de escolaridade. A única excepção foi João Tiago, o mais velho do grupo e que o guitarrista André se lembra de andar na mesma escola, mas uns anos mais à frente. “Ele já tem 60!”, diz-nos, entre risos. O nome da banda foi escolhido em conjunto, mas não tem nada a ver com a música de Frank Zappa com o mesmo título. Vêem-no antes como um fundamento crítico e irónico à sociedade que, para eles, pensa que “a maior parte das pessoas é descartável”. O quarteto recusa-se a ter essa condição. “Não somos pessoas de plástico”, defende, veemente, o guitarrista.
A decisão de se inscreverem no concurso não foi, porém, consensual. Um dos descrentes foi precisamente André, que não tinha a certeza de que este seria o caminho certo. “Vim a descobrir que o problema não é o concurso, são mesmo as pessoas. O concurso acaba por ser bom – para nós tem sido óptimo. Foi a melhor coisa que fizemos.”
Quando finalmente decidiram arriscar, determi-
naram que o espírito de vitória comandaria tudo. “Podíamos não ganhar, como é óbvio, mas decidimos que faríamos tudo para ganhar”, conta André. Já para João Tiago, os votos e a competição nunca foram a principal motivação: “Sempre dissemos que, se chegássemos à final, seria pela qualidade da música.” Neste aspecto, concordam os dois: “No concurso, o que importa é a música.”
O melhor prémio não é, asseguram, actuar nos festivais. “É o contrato discográfico e as condições que temos. A experiência de ir tocar ao Alive e ao Mad Cool é muito boa, mas se não tens algo sólido por trás, que as pessoas possam depois ir ouvir em casa, acabas por passar um bocado ao lado”, afirma André, imediatamente apoiado por João Tiago, que atesta a importância do álbum porque, “no fim, é o que fica”.
Para André, na banda “há mais coesão agora”. Porquê? “Temos mais material, temos evoluído muito – não parámos em nada.”
Depois de terminarem a tarefa hercúlea dos concertos nos festivais ibéricos, a banda fechou-se em estúdio a gravar o disco, cuja edição, com o selo e ajuda da equipa da Sony Music, está agora a ser finalizada. A data de lançamento ainda é uma incógnita, mas os Plastic People prevêem editá-lo ainda em 2018. Para já, está pronto o primeiro single, a sair no fim da nova edição do EDP Live Bands, em Maio. “Acreditamos muito nas canções que temos e no resultado final. Na nossa cabeça, já temos o marco de fazer, se não o melhor, um dos melhores discos de música alternativa de Portugal”, diz João Tiago, confiante. O disco tem influências de David Bowie, Velvet Underground e Jesus and The Mary Chain, com os quais, num mundo hipotético, gostariam de partilhar um palco.
Com apenas dois concertos no currículo quando se inscreveram no EDP Live Bands, os Plastic People passaram rapidamente – no estalar de dedos do concurso – à “primeira liga” da música, tocando para milhares, em dois festivais. Foi ousado, mas eles dizem que nunca sentiram medo. “Só nervosismo”, confessa André. O membro que claramente menos se deixou intimidar foi o vocalista, João Gonçalo (o caloiro da banda, sem projectos musicais anteriores), que se mostrou “completamente à vontade” em Madrid, tentando saltar do palco para o público, “algo próprio do frontman mais louco”, segundo João Tiago. Só ainda não tentou fazer crowd surfing, mas ficou claro que não deve faltar muito.
Foi também nesse concerto que tiveram o momento mais marcante da sua (ainda) curta carreira: subiram a um dos palcos do festival, onde eram a primeira banda a actuar nesse dia, com uma chuva torrencial e sem ninguém à frente. “Foi incrível porque começámos a tocar os primeiros acordes e começaram a correr pessoas para a nossa frente, a dançar”, conta André. “A dançarem à chuva!”, reforça João Tiago, sublinhando que foi assim o concerto todo, com o público a abanar-se e a saltar, num cenário chuvoso e lamacento à Woodstock, o mítico festival de 1969.
Por essa altura, já o choque da vitória do EDP Live Bands, que levou André a verbalizar “o pior obrigado do mundo, devido à surpresa”, se tinha dissipado. “Não estávamos mesmo à espera, havia bandas boas, malta que tocava muito bem”, diz João Tiago, reconhecendo que, embora se tivessem inscrito “para ganhar”, resolveram adoptar uma atitude própria do punk: “Fazeres o que queres, da maneira que queres, com respeito pelo outro.” Aos concorrentes que actuarão na final desta quinta edição, em Maio, deixam os seguintes conselhos: “Divertirem-se como banda, genuinidade, alma e, provavelmente o mais importante, muito trabalho.”
AOS FINALISTAS DA EDIÇÃO DE 2018 (JÁ CONHECIDOS), OS PLASTIC PEOPLE RECOMENDAM “DIVERSÃO, GENUINIDADE, ALMA E MUITO TRABALHO”