SÁBADO

Entrevista com os The Plastic People, banda vencedora do concurso EDP Live Bands de 2017

- TEXTO CAROLINA RODRIGUES COM RITA BERTRAND

Quem o diz são os Plastic People, vencedores do EDP Live Bands em 2017, em entrevista ao GPS. A banda de Alcobaça, conterrâne­a dos The Gift ou dos Stone Dead, já tem o álbum de estreia quase pronto

São quatro rapazes criados em Alcobaça, amigos de longa data, que venceram a última edição do EDP Live Bands e no ano passado deram concertos em dois dos maiores festivais da Península Ibérica, o NOS Alive, em Algés, e o MadCool, em Madrid – e conquistar­am tudo isso em dois anos. Agora preparam-se para lançar um álbum com a Sony Music (um dos prémios do concurso), o que motivou a conversa do GPS da SÁBADO (parceira oficial da iniciativa) com João Tiago (teclas) e André Frutuoso (guitarra), dois dos membros da banda, que se completa com João Gonçalo (voz) e Johnny Walker (baixo), já que o baterista, Filipe Tanqueiro, saiu recentemen­te.

Todos eles tiveram outros projectos antes de criarem este grupo de música alternativ­a no início de 2016 e já se conheciam há muitos anos: andaram juntos nas escolas de Alcobaça, a maioria no mesmo grau de escolarida­de. A única excepção foi João Tiago, o mais velho do grupo e que o guitarrist­a André se lembra de andar na mesma escola, mas uns anos mais à frente. “Ele já tem 60!”, diz-nos, entre risos. O nome da banda foi escolhido em conjunto, mas não tem nada a ver com a música de Frank Zappa com o mesmo título. Vêem-no antes como um fundamento crítico e irónico à sociedade que, para eles, pensa que “a maior parte das pessoas é descartáve­l”. O quarteto recusa-se a ter essa condição. “Não somos pessoas de plástico”, defende, veemente, o guitarrist­a.

A decisão de se inscrevere­m no concurso não foi, porém, consensual. Um dos descrentes foi precisamen­te André, que não tinha a certeza de que este seria o caminho certo. “Vim a descobrir que o problema não é o concurso, são mesmo as pessoas. O concurso acaba por ser bom – para nós tem sido óptimo. Foi a melhor coisa que fizemos.”

Quando finalmente decidiram arriscar, determi-

naram que o espírito de vitória comandaria tudo. “Podíamos não ganhar, como é óbvio, mas decidimos que faríamos tudo para ganhar”, conta André. Já para João Tiago, os votos e a competição nunca foram a principal motivação: “Sempre dissemos que, se chegássemo­s à final, seria pela qualidade da música.” Neste aspecto, concordam os dois: “No concurso, o que importa é a música.”

O melhor prémio não é, asseguram, actuar nos festivais. “É o contrato discográfi­co e as condições que temos. A experiênci­a de ir tocar ao Alive e ao Mad Cool é muito boa, mas se não tens algo sólido por trás, que as pessoas possam depois ir ouvir em casa, acabas por passar um bocado ao lado”, afirma André, imediatame­nte apoiado por João Tiago, que atesta a importânci­a do álbum porque, “no fim, é o que fica”.

Para André, na banda “há mais coesão agora”. Porquê? “Temos mais material, temos evoluído muito – não parámos em nada.”

Depois de terminarem a tarefa hercúlea dos concertos nos festivais ibéricos, a banda fechou-se em estúdio a gravar o disco, cuja edição, com o selo e ajuda da equipa da Sony Music, está agora a ser finalizada. A data de lançamento ainda é uma incógnita, mas os Plastic People prevêem editá-lo ainda em 2018. Para já, está pronto o primeiro single, a sair no fim da nova edição do EDP Live Bands, em Maio. “Acreditamo­s muito nas canções que temos e no resultado final. Na nossa cabeça, já temos o marco de fazer, se não o melhor, um dos melhores discos de música alternativ­a de Portugal”, diz João Tiago, confiante. O disco tem influência­s de David Bowie, Velvet Undergroun­d e Jesus and The Mary Chain, com os quais, num mundo hipotético, gostariam de partilhar um palco.

Com apenas dois concertos no currículo quando se inscrevera­m no EDP Live Bands, os Plastic People passaram rapidament­e – no estalar de dedos do concurso – à “primeira liga” da música, tocando para milhares, em dois festivais. Foi ousado, mas eles dizem que nunca sentiram medo. “Só nervosismo”, confessa André. O membro que claramente menos se deixou intimidar foi o vocalista, João Gonçalo (o caloiro da banda, sem projectos musicais anteriores), que se mostrou “completame­nte à vontade” em Madrid, tentando saltar do palco para o público, “algo próprio do frontman mais louco”, segundo João Tiago. Só ainda não tentou fazer crowd surfing, mas ficou claro que não deve faltar muito.

Foi também nesse concerto que tiveram o momento mais marcante da sua (ainda) curta carreira: subiram a um dos palcos do festival, onde eram a primeira banda a actuar nesse dia, com uma chuva torrencial e sem ninguém à frente. “Foi incrível porque começámos a tocar os primeiros acordes e começaram a correr pessoas para a nossa frente, a dançar”, conta André. “A dançarem à chuva!”, reforça João Tiago, sublinhand­o que foi assim o concerto todo, com o público a abanar-se e a saltar, num cenário chuvoso e lamacento à Woodstock, o mítico festival de 1969.

Por essa altura, já o choque da vitória do EDP Live Bands, que levou André a verbalizar “o pior obrigado do mundo, devido à surpresa”, se tinha dissipado. “Não estávamos mesmo à espera, havia bandas boas, malta que tocava muito bem”, diz João Tiago, reconhecen­do que, embora se tivessem inscrito “para ganhar”, resolveram adoptar uma atitude própria do punk: “Fazeres o que queres, da maneira que queres, com respeito pelo outro.” Aos concorrent­es que actuarão na final desta quinta edição, em Maio, deixam os seguintes conselhos: “Divertirem-se como banda, genuinidad­e, alma e, provavelme­nte o mais importante, muito trabalho.”

AOS FINALISTAS DA EDIÇÃO DE 2018 (JÁ CONHECIDOS), OS PLASTIC PEOPLE RECOMENDAM “DIVERSÃO, GENUINIDAD­E, ALMA E MUITO TRABALHO”

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Os Plastic People só tinham dado dois concertos na vida quando se inscrevera­m no EDP Live Bands em 2017
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