SÁBADO

Quem é o dono do Spotify, que entrou na Bolsa

A ida do Spotify para a Bolsa este mês confirmou Daniel Ek como realeza bilionária da tecnologia, mas o programado­r-empresário já anda nisto desde os 13 anos.

- Por Bruno Faria Lopes

Os pais de Daniel Ek só notaram que ele devia estar a fazer qualquer coisa além de ir às aulas quando começaram a ver a acumulação pouco habitual de compras no quarto do filho. Havia as pilhas de videojogos, televisões (no plural) e guitarras, incluindo uma Fender Stratocast­er de 1957 que custava mais de 20 mil euros e estava bem acima do que a mãe e o padrasto de classe média conseguiam levar para casa. Ek aprendera a programar sozinho e aos 13 anos começara a desenhar páginas na Internet, primeiro para amigos, depois para empresas locais, depois para cada vez mais empresas. Começara a cobrar menos de 100 euros por projecto e acabou a cobrar quase 5.000. Os pais perceberia­m que o rapaz não era dealer de droga, era programado­r – um programado­r que hoje é um bilionário com impacto revolucion­ário, se bem que controvers­o, na indústria da música. A adolescênc­ia de Ek coincidiu com a explosão da Internet e ele aproveitou a onda ao máximo. Arregiment­ava colegas de liceu com talento para matemática ou design para o ajudarem no negócio que geria a partir do seu quarto – ensinava-lhes programaçã­o a troco de pagamentos em espécie. “Dava-lhes iPods, telemóveis. Os jogos eram mega”, contou em 2013 ao site Startups.co. Aos 18 anos tinha 25 pessoas a trabalhare­m para ele e servidores informátic­os nos armários do quarto (“bons para secar a roupa”). O fisco demorou mais tempo do que os pais de Ek a perceber que havia ali negó- cio lucrativo mas, quando soube, entregou-lhe uma conta por pagar de mais de 160 mil euros. Ek gastava o que ganhava e cumpriu no limite. Tentou a faculdade em 2002, mas largou o curso de Engenharia Informátic­a ao fim de oito semanas por ser demasiado teórico, relata a Forbes. Interessav­a-lhe perceber os mecanismos de indexação nos motores de busca – tentara aos 16 anos um emprego que parecia promissor, no Google, mas foi recusado por não ter curso superior. Quando abandonou a faculdade conseguiu empregos em várias empresas tecnológic­as até que fundou a Advertigo, empresa de marketing digital que lhe rendeu mais de 1,5 milhões de euros quando a vendeu em

EK TOCA GUITARRA, BATERIA E PIANO. FEZ O PRIMEIRO MILHÃO AOS 23 ANOS E A SEGUIR CAIU EM DEPRESSÃO

2006. Tinha 23 anos. Comprou uma casa de luxo em Estocolmo, um Ferrari, saiu muito – e, segundo o próprio, acabou deprimido. “Queria muito encaixar e pensava que isso ficaria resolvido quando tivesse dinheiro – em vez disso fiquei sem ideia sobre como viver a vida”, disseà New Yorker em 2014. Vendeu o Ferrari e a casa, mudou-se para uma cabana num bosque urbano perto do subúrbio dos seus pais. Daniel Ek sabia que gostava de música – toca guitarra, baixo, bateria e piano – e que queria outro projecto, mais duradouro, na área tecnológic­a. No homem que meses antes tinha comprado o seu negócio encontrou um parceiro. Com o veterano Martin Lorentzon – rico, aborrecido e à procura de um projecto – fundou no fim de 2006 o Spotify, um serviço que disponibil­iza música de forma legal, gratuitame­nte ou a baixo custo, pago por publicidad­e e subscriçõe­s. A Internet destruíra o modelo de negócio das editoras de música e a pirataria era enorme – o próprio Ek gerira pouco antes o uTorrent, que fazia dinheiro à custa de música e filmes pirateados. “Perturbava-me que a indústria fosse pelo cano abaixo enquanto as pessoas ouviam cada vez mais música”, disse à New

Yorker. O iTunes, lançado pela Apple em 2003, confirmava também a mudança na forma de ouvir e comprar música, de álbuns inteiros para faixas.

Demonstraç­ão com música pirata

Ek sabia que o Spotify só poderia ser lançado quando tivesse um catálogo alargado, mas convencer as editoras a cederem direitos para um serviço não testado no mercado provou ser muito difícil. Foi só quando Ek pôs música pirateada na plataforma e enviou demonstraç­ões aos executivos europeus que estes prestaram atenção. Três anos depois conseguiu assinar com editoras nos Estados Unidos. Ek viajava 100 dias por ano, dormia seis horas e trabalhava cerca de 14 horas, narrava a Forbes em 2012.

O número de subscritor­es do serviço pago (o Premium) não tem parado de crescer e era já de 70 milhões em Janeiro deste ano. No início do mês de Abril a empresa que ainda não gera lucro foi para a Bolsa, onde vale agora mais de 21 mil milhões de euros, elevando a fortuna potencial de Ek, de 34 anos, a 2 mil milhões. A empresa é controvers­a junto dos artistas (ver caixa), a Apple lançou um serviço concorrent­e em 2015, mas as coisas vão saindo bem ao sueco que passou ao estatuto de bilionário e guru da comunidade tecnológic­a – parte da nova aristocrac­ia mundial dos negócios.

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