SÁBADO

Nove clássicos que decidiram o campeão

Das goleadas encarnadas nas décadas de 30 e de 40 até às vitórias portistas nos anos 2000, já houve de tudo nos clássicos. O de domingo volta a ser decisivo para o campeonato.

- Por RuiMiguelT­ovar

Benfica e FC Porto estão separados por um ponto e defrontam-se no domingo. A propósito, escolhemos nove clássicos decisivos na casa do Benfica, um por década desde o início do campeonato, em 1934. Há vitórias, empates, derrotas, goleadas, nulos, expulsões e muito mais.

1937 SLB 6 FCP 0

Tudo está pronto para a festa do Benfica. Faltam duas jornadas para o fim e basta um empate nas Salésias para o lançamento dos foguetes. Só que Varela Marques marca aos 30 minutos, o Belenenses ganha 1-0 e já só está a um ponto do líder. Tudo adiado para o último fim-de-semana, o do Benfica-FC Porto (e o do Belenenses-Vitória FC). Nas Amoreiras, onde agora é o Liceu Francês, o início de jogo é o melhor possível com um golo de Valadas. O avançado do Benfica recebe de Gaspar Pinto e atira de primeira, em vólei. A bola descreve um arco e entra na baliza à guarda de Romão. Até ao intervalo, o Benfica estica ainda mais a vantagem, por Valadas e Espírito Santo. Na segunda parte, mais três golos (Xavier, Rogério Sousa e Nova, na própria baliza). Acaba 6-0, o Benfica é campeão e o FC Porto termina em quarto.

1945SLB 7 FCP 2

O Sporting sagra-se campeão nacional em 1944 e sonha com o bi. Quem tem Peyroteo, arrisca-se ao título e muito mais. Só que o Benfica de Janos Biri não está pelos ajustes e cola-se ao primeiro lugar desde o início. No fim da primeira volta, dois pontos de avanço sobre o FC Porto. Quando chega a hora do clássico, a quatro jornadas do fim, a incerteza é imensa. E o Benfica dissipa-a num piscar de olhos. Ao intervalo, 3-0 por Rogério, Mário Rui e Guilhar, na própria baliza. Na segunda parte, um bis para cada lado (Teixeira e Araújo). O jogo acaba com um invulgar 7-2 e o Benfica reforça a candidatur­a ao título, conquistad­o curiosamen­te no Porto, contra o Salgueiros.

1956SLB 1 FCP 1

Uma semana antes, Benfica e FC Porto dividem o primeiro lugar. Só que a Académica, através de um solitário golo de Faia, derruba a equipa de Otto Glória e o FC Porto assume a liderança isolada na semana do clássico da Luz. Enorme expectativ­a para saber se se mantém a invencibil­idade portista (15 vitórias e cinco empates). Noventa minutos depois, a confirmaçã­o da

ROGÉRIO PIPI MARCOU NA GOLEADA DE 7-2 (1945). O BENFICA IRIA SER CAMPEÃO DALI A DUAS SEMANAS NO PORTO (6-0 AO SALGUEIROS)

irredutibi­lidade à conta do 1-1. Golos só na segunda parte e o primeiro é dos visitantes, após lance de Jaburu pela direita a que Costa Pereira correspond­e mal. Com a baliza aberta, Teixeira marca facilmente. O empate chega um minuto depois da expulsão de Hernâni, o maestro do FC Porto, por agressão a Ângelo. A falta é marcada, Calado remata forte, Pinho defende para a frente e José Águas faz a recarga com categoria. O empate penaliza o Benfica e dá mais força ainda ao FC Porto, que dá uma volta olímpica ao estádio e cujos jogadores levam o treinador brasileiro Dorival Yustrich em ombros.

1969SLB 0 FCP 0

O sorteio é caprichoso e monta um clássico a uma jornada do fim. Como o Sporting está pelas ruas da amargura, a lutar pelo quinto lugar, o FC Porto assume-se como segunda força e chega à Luz com dois pontos de desvantage­m. Que na semana anterior era só um (empate-surpresa do União de Tomar nas Antas, 2-2). Empurrado pelo seu público, o Benfica abalança-se ao ataque desde o primeiro minuto e acaba o jogo com 12 cantos a favor. Do Porto, nem um. Rui, o guarda-redes elástico dos portistas, é a figura do jogo com uma série infinita de defesas milagrosas, a esmagadora maioria aos pés de Eusébio. Começa como acaba, 0-0. O Benfica está a um empate do tri, o FC Porto precisa de um milagre em Tomar. Tal não acontece, 4-0 para o Benfica de Otto Glória.

1972SLB 1 FCP 0

Campeão em título com o inglês Jimmy Hagan, o mundo benfiquist­a sonha com o bi. Do sonho à realidade é um passo. Com 13 vitórias e dois empates, o Benfica dobra a primeira volta com cinco pontos de avanço sobre o Vit. Setúbal, sete sobre o Sporting, nove sobre a CUF e 12 sobre o FC Porto. Pois é, o FC Porto ocupa o quinto lugar. A vida vai torta e jamais se endireita. Todos querem pensar o contrário naquela tarde de 12 de Janeiro de 1972 para ter uma ínfima esperança de lutar até ao fim, só que o Benfica é realmente mais forte e ganha 1-0, golo de Simões. Na ausência de Eusébio lesio-

nado, é o outro magriço a garantir os dois pontos – e a descida do FC Porto para a sexta posição, por troca com o Belenenses.

1981SLB 1 FCP 0

Sem ganhar o campeonato há três anos, o Benfica atravessa a pior seca dos últimos 30 anos. À quarta é de vez? Lajos Baroti tem a varinha mágica e o Benfica goza de uma vantagem de dois pontos sobre o FC Porto de Hermann Stessl. O goleador Walsh é arrumado por Humberto Coelho aos 38 minutos, com uma entrada brutal, e António Garrido nem puxa do cartão. Após o intervalo, João Alves recolhe um centro de Chalana e dá uma biqueirada na bola, sem hipótese para Tibi. A essa alegria, a do golo solitário no clássico, Alves acrescenta-lhe outra ainda maior com o nascimento da sua filha chamada Núria Maria. Com quatro pontos à frente, o Benfica controla bem a vantagem e é campeão na penúltima jornada.

1992SLB 2 FCP 3

O FC Porto de Carlos Alberto Silva é o líder incontestá­vel desde o fim da primeira volta (1-0 em Alvalade) e acumula seis vitórias seguidas até a visita à Luz. O Benfica de Eriksson tem de ganhar para sonhar com o bicampeona­to. Na primeira parte, há tréguas e um quase golo de William salvo por Domingos na linha (0-0). Na segunda, é um ver-se-te-avias com golos e mais golos. Ao todo, cinco. Começa o Porto, por João Pinto num penálti mal assinalado por Fortunato Azevedo, com expulsão à mistura (a falta de Rui Bento sobre Rui Filipe é fora da área). Reage William, 1-1 de cabeça, aos 74’. Dez minutos depois, o suplente Domingos evita o fora-de-jogo em linha e cruza para o encosto fácil de Kostadinov. No minuto seguinte, 2-2 de Yuran a passe de Rui Costa. Em cima dos 90, Domingos (sempre ele) desmarca o outro suplente (Timofte) e o romeno arruma a questão do título: sete pontos de avanço à falta de sete jornadas.

2003SLB 0 FCP 1

A diferença pontual é enorme, qualquer coisa como 10 pontos a 11 jogos do fim, só que há quem faça do clássico um jogo especial, até porque o Benfica de Camacho não perde há 12 jornadas, entre nove vitórias e três empates. O FC Porto de Mourinho olha para esses dados estatístic­os com desdém e o que se assiste na Luz é a um monólogo memorável dos portistas, na terça-feira de Carnaval. Acaba 1-0, obra de Deco, aos 36 minutos. Poderiam ter sido três ou quatro, tal a avalanche ofensiva demonstrad­a ao longo dos 90 minutos. “Parabéns à comunicaçã­o social”, diz Mourinho na flash-interview. “Conseguira­m fazer deste jogo o da decisão para o título.”

2012SLB 2 FCP 3

Empatados em pontos, só com vantagem nos golos (3), o FC Porto visita a Luz com a dúvida James. Como o colombiano chega a Lisboa em cima da hora, por culpa dos jogos das selecções, Vítor Pereira aposta em Djalma. O FC Porto entra a ganhar com um remate forte de Hulk do meio da rua, aos 7’. O Benfica responde por Cardozo. E em dose dupla, aos 41’ e 48’. Com a saída do maestro Aimar, o Benfica perde força e o FC Porto agiganta-se, sobretudo a partir do momento em que James entra. É dele o 2-2 numa jogada frenética desde o seu meio-campo. O golpe de misericórd­ia é dado a quatro minutos do fim, já com o Benfica reduzido a 10 por expulsão de Emerson (duplo amarelo aos 77’), com um cabeceamen­to de Maicon em fora-de-jogo. Com três pontos à maior e em vantagem no confronto directo, o FC Porto nunca mais sai do primeiro lugar e é campeão nacional.

COM A SAÍDA DE AIMAR, O BENFICA PERDE FORÇAEOFC PORTO AGIGANTA-SE. JAMES EMPATA E MAICON FAZ O 3-2

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