SÁBADO

AINDA É DO TEMPO DOS FABRICANTE­S DA TERMOTEBE?

- RITA BERTRAND

Chega esta sexta-feira, 20 de Abril, ao Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães – onde termina a sua carreira, depois da estreia em Fevereiro, no Teatro D. Maria II, em Lisboa (no ciclo Portugal em Vias de Extinção) e da passagem pelos co-produtores, o Teatro Gil Vicente, em Coimbra, e o Aveirense, em Marco –, Eu Uso Termotebe e o Meu Pai Também,

um espectácul­o de Ricardo Correia em torno do trabalho fabril, que recolheu o título a um anúncio dos anos 80, a uma camisola interior produzida numa fábrica têxtil de Barcelos, que entretanto fechou. Idealizada pela Casa da Esquina, companhia de Coimbra, é uma peça de teatro documental, interpreta­da por Beatriz Wellenkamp, Celso Pedro, Hugo Inácio, Joana Pupo e Sara Jobard, que parte de testemunho­s de cerca de 20 pessoas, entre operários fabris, empresário­s, sindicalis­tas e sociólogos, que foram gravados e passados para papel com a intenção de trazer o passado à memória e mostrar, nos nossos dias, como a realidade industrial do País não chegou a ser o El Dorado prometido. Natural de Barcelos, filho, neto, primo e sobrinho de operários, Ricardo Correia queria há muito abordar a história das indústrias do Vale do Ave, muitas delas encerradas. O resultado é este Eu Uso Termotebe e o Meu Pai Também, um “memorial” de um tempo que passou, mas que ao mesmo tempo sobrevive na vizinhança dos edifícios decrépitos das velhas fábricas e na recordação das lutas por melhores condições de trabalho, num cenário simples, que consiste em móveis tapados com lençóis, uma piscina insuflável (a simbolizar as férias dos operários), e um ecrã a projectar imagens de trabalho.

Após o espectácul­o, haverá conversa com Ricardo Correia e o público, sobre o tema, a pesquisa e o processo criativo.

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