Violências desportivas
ACONTECETODOSOSANOS:chega
Janeiro e eu, com a culpa da gula e os delírios da hipocondria, marcho para o ginásio com o propósito sério de me “inscrever”. Atenção ao verbo: não se trata de “treinar”, “correr”, “nadar” ou “esticar” a minha pobre carcaça. O ritual consiste em pegar na caneta, preencher um formulário e assinar. O alívio que sinto é tão imediato e intenso que só por conspiração genética não perco logo dois quilos ou três. Depois, quando o ano avança e Maio se aproxima, contemplo melancolicamente que não pus os pés no ginásio e começo a pensar no melhor estratagema para contornar a “fidelização”. Assim de cabeça, já aleguei mudança de emprego umas 10 vezes. Outras dez de geografia. E, clinicamente falando, os meus problemas súbitos de saúde começam no A (de acromegalia) e terminam no Z (de zincopenia). É por isso que me solidarizo com o médico belga que passou um atestado falso para que uma senhora de baixos rendimentos pudesse abandonar o ginásio sem ser penalizada por isso. O caso, contado por esta revista, provocou a indignação da associação profissional de ginásios do País. Parece que os casos são recorrentes e a associação não gosta de ser aldrabada. Curiosamente, em nenhum momento esta nobre associação questionou a sua legitimidade para aprisionar as pessoas a um contrato. A fidelização é um direito divino, que os governos não se atrevem a revogar. Felizmente, há sinais de esperança em Portugal. Na passada semana, o parlamento aprovou uma nova lei de mudança de género que permite a uma criança de 16 anos mudar o nome e o género sem precisar de um atestado médico. Em termos práticos, é agora mais fácil mudar a identidade no registo do que abandonar o ginásio do bairro. Resta-me esperar que a luta dos transexuais sirva de inspiração para a luta de todos os preguiçosos deste país. Para usar as palavras pungentes da deputada Isabel Moreira no
os preguiçosos também sabem que o são. Não precisam de suportar o vexame de mendigar a um médico a sua carta de alforria.
QUEM PASSASSE JUNTO AO ESTÁDIO DA LUZ
no último domingo seria levado a pensar que tinha havido atentado terrorista nas proximidades: uma multidão em fuga invadia as ruas, provavelmente em busca de salvação policial. Ironicamente, era o contrário: a multidão fugia da polícia – e os rostos, longe de exibirem medo ou trauma, revelavam a mais perfeita excitação. Terrorismo? Não. Jogo de bola. Ou, para usar a linguagem da tribo, um “clássico”. E, com o “clássico”, vem sempre a sobremesa: pancadaria animada entre adeptos e agentes de autoridade.
Em Inglaterra, uma certa intolerância com a selvajaria futebolística trans- formou os estádios e adjacências em lugares de lazer. Portugal não entra nesses esquemas repressivos e encara a violência como parte do pacote: de que vale ter um campeonato de futebol se as claques não podem sovar e ser sovadas?
Perante esta fatalidade, pergunto se não seria possível limitar os danos exteriores que estas trepidações provocam e potenciar, ao mesmo tempo, as receitas dos clubes. Como? Integrando a violência no próprio recinto, permitindo que o estádio se transformasse em arena de gladiadores, na melhor tradição romana. Imagino o programa das festas: findo o jogo, as equipas retiravam-se do relvado. Os espectadores que comprassem bilhete duplo poderiam ficar nas bancadas. Depois, as claques rivais entrariam em campo para uma disputa entre elas. Em caso de empate, seguia-se a carga policial.
E para os puristas que gostam de lembrar o bestiário do Coliseu romano, com os seus tigres e leões, convém lembrar que Sete Rios é ali ao lado. Estou certo que o Jardim Zoológico daria uma ajuda, abrindo com gosto as suas jaulas.
JÁCONHECIAOCONTEÚDO
dos interrogatórios judiciais a José Sócrates. Mas ainda não tinha visto as imagens respectivas, que a SIC mostrou, e onde o nosso José está sempre a um passo de agredir os magistrados. Que os mesmos não tenham nunca interrompido os trabalhos, dando-lhe ordem de prisão, eis a prova definitiva de que a justiça portuguesa não funciona.