SÁBADO

A RAPARIGA NO NEVOEIRO

A VAIDADE MATA

- PEDRO M. SANTOS CRÍTICO

Escrever romances e realizar filmes são duas tarefas tão diferentes que espanta a húbris dos que se decidem a misturá-las. Donato Carrisi, após o êxito internacio­nal do seu bestseller transalpin­o, escreve o guião e dirige a respectiva adaptação cinematogr­áfica, mas talvez devesse ver antes 300 vezes o Duros Não Brincam

(1987) de Norman Mailer para perceber o risco do estampanço. Não que a A Rapariga no Nevoeiro seja desprovido de qualidades: policial arquetípic­o, mergulha na história da investigaç­ão ao desapareci­mento de Anna Lou, miúda de 15 anos, numa noite de nevoeiro dias antes do Natal. O detective, Vogel (Toni Servillo, um

habitué do universo de Paolo Sorrentino) é convenient­emente dado à ambivalênc­ia, com métodos discutívei­s, e o mecanismo escolhido é a clássica rede de flashbacks, a partir de uma conversa de Vogel com Augusto Flores (Jean Reno num italiano impecável), psicólogo há 30 anos residente na região montanhosa que serve de palco à intriga.

O timing de lançamento da informação ao espectador revela-se eficaz, como é imprescind­ível em qualquer noir, mas os clichés acumulam-se como cadáveres na neve, do puto munido da indispensá­vel câmara de vídeo, obcecado pela desapareci­da, à comunidade religiosa local – totalmente desaprovei­tada no seu potencial dramático –, passando pela repórter de tablóide e pelos suspeitos do costume (Alessio Boni, de A Melhor Juventude, irreconhec­ível sob barba espessa). Resultado: após mais de duas horas, ficamos tão exasperado­s como Vogel.

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DE DONATO CARRISI Fra./Itá. • Thriller • M14 • 128m Com Toni Servillo e Alessio Boni
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