Frederico Gil e as memórias do Estoril Open
É profissional de ténis desde 2003, tem 33 anos, e está em 214º do ranking mundial. Com a proximidade do Estoril Open, nada mais lógico do que falar com o único português a chegar à final do torneio.
Segundo português a chegar ao top 100 do ranking ATP, primeiro português a atingir a terceira ronda de um Masters 1000 (Monte Carlo 2011) e primeiro a chegar à entrevista da
SÁBADO no clube de ténis de Carcavelos. Eis Frederico Gil. É a descontracção em pessoa e ri-se com naturalidade. Depois de muitos meses parado, prepara-se para regressar no Estoril Open, que se joga entre 28 de Abril e 6 de Maio, no Clube de Ténis do Estoril. Com o fotógrafo a orientá-lo para aqui e para ali, Gil recua no tempo.
Tiveste sempre queda para o desporto?
Já é de família. O meu avô jogou futebol no Benfica, depois na Académica com Mário Wilson e essa malta. O meu pai também jogou no Benfica, até aos juniores.
E tu?
Joguei futebol no Mucifalense. Aos 12 anos, já não dava para conciliar entre futebol, ténis e escola.
Escolheste a escola e...?
Chateei-me no futebol com um colega durante o treino, porque ele queria muito ser titular e eu também.
Jogavas a quê?
Extremo-direito.
E o ténis?
Tinha um court lá em casa e tudo, estava sempre a treinar.
Lembras-te de ir ao Estoril Open?
Então não?! Era o maior torneio de Portugal e o meu pai levava-me a ver os jogos de Nuno Marques, Cunha e Silva, Emilio Sánchez e Thomas Muster.
Qual é a tua primeira participação no Estoril Open?
Em 2005, ganhei um wild card para o qualifying. No ano seguinte, ganhei o torneio RTP e entrei no quadro principal. Fui eliminado pelo Nalbandian nos quartos-de-final.
Qual é o teu melhor momento no Estoril Open?
A meia-final em 2010, com García-López. Pena a final perdida. Não estava preparado para a ganhar.
Física ou...?
Mentalmente. Passaram-me muitas coisas pela cabeça. Primeiro, já me dava por satisfeito com aquela semana e nem me importava de perder 6-4, 6-3. Depois, inquietei-me com esse pensamento e abandonei-o por completo: “Não te contentes com 6-4, 6-3, ‘bora lá ganhar isto.” A ajudar à festa, o Montañés está algo nervoso para fechar o jogo e eu empato. Vamos para o terceiro set e abro uma vantagem de 3-0. Aí, já só penso em como vou comemorar: se me vou atirar para trás, se me atiro ao meu treinador, se subo às bancadas. Desfoquei-me, claro. Quando estou a ganhar 4-2, o Montañés começa a ficar sólido e jogo no erro dele. Às tantas, e sem erros do
“Sempre gostei de jogar em Portugal, o apoio é mais genuíno. Tal como as críticas”
Montañés, fico irritado por me ter embrulhado com esses pensamentos e perdi por 7-5. Foi pena.
E o público português, que tal?
Sempre gostei de jogar em Portugal, o apoio é mais genuíno. Tal como as críticas [risos].
Onde é que sentiste mais medo?
Nigéria, uma pressão imensa, todo o pessoal em cima de mim. Senti que me podiam fazer mal fora do court.
E de resto?
Nos outros palcos, sobretudo os do ATP, a malta quer é aplaudir bom ténis. É uma ética porreira.
Tens amigos no circuito?
Daniel Gimeno Traver, com quem ganhei um torneio de pares no Chile. Outro espanhol, Marcel Granollers. O marroquino Lamine Ouahab.
E ídolos?
Agassi, o meu mundo parava quando o via a jogar com o Sampras. E depois o Juan Carlos Ferrero.
Quando ele tinha 18 anos, o treinador dele era amigo de um amigo da família e pediu emprestada uma casa em Cascais para jogar uns torneios. Como temos campos de ténis, oferecemos a nossa casa e passei o mês atrás do Ferrero. Tinha 12 anos e foi um mês de aprendizagem em que meti na cabeça que queria ser o Ferrero. Eles depois ofereceram-me um curso intensivo de duas semanas em Espanha e vim de lá a querer fazer do ténis o meu futuro. Os meus pais apoiaram-me, desde que acabasse a escola, e cá estou.
Viste mais alguma vez o Ferrero?
Aos 18 anos. Estava a jogar o Roland Garros em juniores, quando o treinador do Ferrero me foi buscar aos balneários e convidou-me a passar o dia com eles, que era só o da meia-final de seniores. Foi dividir mesa com o Ferrero, foi fazer o aquecimento com ele no court principal antes do jogo e foi ver tudo aquilo na box, ao lado do treinador. De sonho.
E agora, o Estoril Open 2018?
Quero participar, estou à espera de uma resposta. Sei que tenho de ser paciente porque estive nove meses parado e desci muito no ranking.
O que é que te fez parar?
Basicamente, cansaço. Não me sentia bem naquela vida do circuito e quis apostar mais na vida pessoal. Foi quando conheci a mãe da minha filha.
Então correu bem...
Foi fixe. Deu certo [risos].
“Estive nove mesesparado. Não me sentia bem naquela vida do circuito e quis apostarmais na vida pessoal” Ao tempo que já não ouvia esse nome...