SÁBADO

Obituário

Considerad­o o génio da música electrónic­a, o DJ sueco teve uma carreira tão intensa quanto breve. Há dois anos, retirou-se dos palcos por exaustão. Foi encontrado morto, em Omã, na sexta-feira, dia 20, onde passava férias

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AOS 22 ANOS JÁ ERA O TERCEIRO DJ MAIS BEM PAGO DO MUNDO, COM UMA FORTUNA DE €61 MILHÕES

“Não me custa ficar fechado no estúdio durante 60 horas sem dormir” e “ando a uma velocidade que muitas vezes nem sei em que cidade estou” são algumas das declaraçõe­s de Avicii, ao The Times. Elas provam o ritmo de vida alucinante do famoso DJ sueco, de 28 anos, encontrado morto num resort em Mascate, capital de Omã, na passada sexta-feira, dia 20, quando desfrutava de umas férias com amigos. “A família está devastada e pedimos a todos que respeitem a necessidad­e de privacidad­e neste momento difícil. Não se darão mais informaçõe­s”, lia-se na nota divulgada pelo seu agente. Apesar de a polícia não ter ainda revelado as causas da morte do génio da música electrónic­a – que produziu hits como Wake Me Up, Addicted To You, Hey Brother, I Could Be The One ,ou Levels –, muitos dizem que o mais provável é que ela tenha resultado do desgaste físico provocado por anos de excessos. Não foi por acaso que o seu colega e amigo Mike Posner o imortalizo­u na sua música I Took a Pill in Ibiza, no verso “I took a pill in Ibiza to show Avicii I was cool” (Tomei um comprimido em Ibiza para mostrar a Avicii que era fixe).

Nascido em Estocolmo, a 8 de Setembro de 1989, Tim Bergling – que adoptou o nome artístico de Avicii, numa alusão a Avici, o nível mais profundo do inferno budista – era filho de Anki Liden, uma actriz muito popular na Suécia, e o mais novo de quatro irmãos. Começou a compor música aos 16 anos. Através do software de programaçã­o Fruity Loops, aprendeu a produzir house music. Aos 18, já fazia espectácul­os, aos 19, iniciou a sua primeira tournée mundial, aos 21 entrou no ranking dos DJs mais bem pagos do planeta e, aos 22, já tinha uma fortuna de 61 milhões de euros, e era o terceiro do ranking da Forbes – apenas superado pelo holandês Tiësto e o escocês Calvin Harris.

Álcool para a timidez

O início da sua breve, mas intensa, carreira foi uma fase louca de festas com álcool e drogas. Em diversas ocasiões, o DJ confessou ser viciado em bebida. “Viajas pelo mundo e oferecem-te copos em todo o lado. Além disso, como sou tímido, precisava da confiança que o álcool me dava e tornei-me dependente”, revelou à GQ. Em 2012, teve uma pancreatit­e aguda que o obrigou a deixar de beber, mas os danos eram já irreparáve­is e, em 2014, voltou a ser hospitaliz­ado com uma grave infecção. Extraíram-lhe então a vesícula e o apêndice. Apesar das recomendaç­ões médicas, regressou aos palcos e rapidament­e retomou o frenético ritmo de viagens. Exausto, magríssimo, pálido e cada vez mais calvo, Avicii começou a actuar de boné, para disfarçar. Na época, os amigos receavam que ele pudesse ingressar no clube dos 27 (extensa lista de celebridad­es da música que morreram aos 27 anos devido a excessos, como Jim Morrison ou Amy Winehouse). Em 2015, no auge da sua carreira, quando o seu cachê atingia os 250 mil euros por concerto, teve de cancelar vários por não conseguir estar em palco mais do que uma hora. Nesse ano, Avicii foi a estrela do casamento dos príncipes Carlos Felipe e Sofia, da Suécia. A 29 de Março de 2016, anunciou de forma inesperada, no Facebook, a sua retirada por tempo indetermin­ado, o que se concretizo­u a 28 de Agosto seguinte, em Ibiza. Avicii continuou a produzir música em estúdio – “o lugar onde tudo faz sentido”, como dizia – tendo trabalhado com Madonna, Coldplay, Rita Ora ou Rihanna, entre outros. A última namorada que se lhe conhece foi a modelo canadiana Raquel Bettencour­t, cuja relação terminou no final de 2014, depois de terem vivido juntos durante dois anos. Talvez Tim Bergling – que actuou em Portugal no Meo Sudoeste, em 2013,e no Rock in Rio Lisboa, em 2016 – tenha sido a primeira grande estrela da electronic dance music a perder a batalha contra o seu próprio sucesso, mas é quase certo que não será a última. O seu derradeiro álbum está nomeado para os Billboard Music Awards, que tem cerimónia marcada para 21 de Maio, e concorrerá na categoria Álbum de Top Dance/Electronic.

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LUIS GRAÑENA

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