As lições do Arsenal e do Man. United
QUANDO O TREINADOR ALEX
Ferguson entrou para o Manchester United o clube não era campeão há 19 anos – e continuou sem ser durante mais tempo. Nas primeiras quatro temporadas, Ferguson levou a equipa ao 11º lugar, ao 2º lugar, ao 11º de novo e a um triste 13º lugar. O escocês era triturado em público, mas a direcção do clube aguentou-o e nos 23 anos seguintes foi o que sabemos: o Man. United ganhou 38 títulos, incluindo 13 campeonatos e duas edições da Liga dos Campeões. Um dos rivais de Ferguson foi um treinador também com uma longevidade fora do vulgar: Arsène Wenger, que há dias anunciou a sua saída do Arsenal após 22 anos no clube. Wenger entrou melhor do que Ferguson (foi campeão logo na segunda época) mas ganhou menos no total, o que foi tornando a sua permanência no clube um tema de cada vez mais intenso debate. O Arsenal não é campeão há 14 anos e Wenger tornou-se, como escreveu Bruno Vieira Amaral, um “especialista em justificar o fracasso”. Contudo, se olharmos meio século para trás, como no gráfico abaixo, torna-se difícil argumentar que Wenger foi prejudicial para o Arsenal – ganhou mais títulos do que outros e, sobretudo, sedimentou um clube antes errático no topo do futebol inglês (e europeu). Sucesso para a direcção do Arsenal não era só ganhar – era resistir no topo.
A longevidade de Wenger é mais interessante do que a de Ferguson e é completamente oposta à generalidade da cultura europeia, com destaque para a portuguesa. Se a época passada foi um regabofe de instabilidade – houve 26 substituições durante e no fim da temporada na primeira divisão portuguesa –, os dois anos anteriores não foram muito melhores, com 17 e 19 substituições. Mesmo em Inglaterra, casos como o de Wenger começam a ser excepção. Agora que deixou o Arsenal creio que não haverá ninguém há mais de três temporadas no cargo. A propriedade dos clubes ingleses mudou, a pressão para ter sucesso é cada vez maior e os técnicos são os primeiros a sair.
O ponto está em saber se a impa- ciência resulta. Fiquei surpreendido ao perceber que há uma vasta literatura académica sobre estabilidade na gestão desportiva – e, claro, sobre estabilidade na gestão empresarial. Os estudos que li concluem que a performance dos clubes melhora um pouco logo à seguir à “chicotada psicológica”, mas que no longo prazo o desempenho reverte para a média passada. Nas empresas cotadas, onde a pressão para os resultados vem das expectativas dos accionistas, a conclusão parece ser a mesma – um estudo publicado na Harvard Business
Review em 2003 concluía que a performance até se agrava à medida que sobe a instabilidade.
As razões para estes maus resultados são transversais ao futebol e às empresas: as “chicotadas” tiram tempo para encontrar um bom sucessor, a pressa não substitui a necessidade de ter perspectiva sobre os problemas estruturais e quem escolhe tem muitas vezes um entendimento pobre sobre quais são estes problemas e sobre o que é ter “sucesso”.
Não estou a defender que, com tempo, todos se transformam num Ferguson ou que Wenger não ficou demasiado tempo. Mas estes exemplos mostram que um conservadorismo assente em bom planeamento, boa estrutura e uma definição assumida daquilo que se entende por sucesso é melhor do que o mito do homem providencial – aquele que, sonha quem o escolhe, fará o seu trabalho e o dos outros para que todos ganhem já amanhã.