SUNFLOWER BEAN O ROCK SALVA VIDAS
Não é por acaso que Julia Cumming,
frontwoman dos Sunflower Bean, diz que o rock, em geral, salva vidas – e a verdade é que, muitas vezes, na adolescência, a música pode ser o equivalente a uma sebenta, de acesso rápido e fácil, que permite lidar com situações desconhecidas ou relativamente às quais a partilha, com quem nos rodeia, é complexa.
Ao segundo disco, Twentytwo in Blue ,os Sunflower Bean editam um desses compêndios. De forma despretensiosa, sincera e sem artificialismos, cada canção do álbum é uma pequena lição, uma partilha ou um desabafo que, para alguém que ainda está nos seus 20 e poucos anos, demonstra uma profundidade, no mínimo, prometedora. Mesmo nos momentos mais leves, há uma energia diferente que envolve cada música, transformando-a em algo mais do que uma boa melodia para acompanhar com um assobio. Acima de tudo, Twentytwo In Blue é
pop de inspiração pós-punk, por vezes a remeter para ambientes contíguos a Blondie, mas que não se limita aos rótulos do costume. Ao nível lírico, há um par de murros no estômago – como “Looking around for your hand/When I noticed falling where I once stood/If I was blind you were
heartless ”( I Was A Fool) – mas mesmo quando as metáforas não são tão elaboradas e Cumming discorre sobre as emoções ou situações de uma forma mais escorreita e directa, nada parece deslocado ou superficial.
Twentytwo in Blue tem uma atmosfera muito próxima de Grab That Gun (2004), dos The Organ. Desde logo, é mais que um disco que apenas faz sentido aos 20 e poucos. Tem uma certa dose de ingenuidade particularmente saudável, um cinismo muito pontual – mas certeiro – e encerra em si mesmo o potencial de um álbum que, em determinado período, pode ser de facto marcante.