SÁBADO

SUNFLOWER BEAN O ROCK SALVA VIDAS

- FILIPE LAMELAS CRÍTICO

Não é por acaso que Julia Cumming,

frontwoman dos Sunflower Bean, diz que o rock, em geral, salva vidas – e a verdade é que, muitas vezes, na adolescênc­ia, a música pode ser o equivalent­e a uma sebenta, de acesso rápido e fácil, que permite lidar com situações desconheci­das ou relativame­nte às quais a partilha, com quem nos rodeia, é complexa.

Ao segundo disco, Twentytwo in Blue ,os Sunflower Bean editam um desses compêndios. De forma despretens­iosa, sincera e sem artificial­ismos, cada canção do álbum é uma pequena lição, uma partilha ou um desabafo que, para alguém que ainda está nos seus 20 e poucos anos, demonstra uma profundida­de, no mínimo, prometedor­a. Mesmo nos momentos mais leves, há uma energia diferente que envolve cada música, transforma­ndo-a em algo mais do que uma boa melodia para acompanhar com um assobio. Acima de tudo, Twentytwo In Blue é

pop de inspiração pós-punk, por vezes a remeter para ambientes contíguos a Blondie, mas que não se limita aos rótulos do costume. Ao nível lírico, há um par de murros no estômago – como “Looking around for your hand/When I noticed falling where I once stood/If I was blind you were

heartless ”( I Was A Fool) – mas mesmo quando as metáforas não são tão elaboradas e Cumming discorre sobre as emoções ou situações de uma forma mais escorreita e directa, nada parece deslocado ou superficia­l.

Twentytwo in Blue tem uma atmosfera muito próxima de Grab That Gun (2004), dos The Organ. Desde logo, é mais que um disco que apenas faz sentido aos 20 e poucos. Tem uma certa dose de ingenuidad­e particular­mente saudável, um cinismo muito pontual – mas certeiro – e encerra em si mesmo o potencial de um álbum que, em determinad­o período, pode ser de facto marcante.

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TWENTYTWO IN BLUE Indie-rock • Ed. Mom €17,90
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