O PODER CRESCENTE DA DONA DA MÁQUINA
Ana Catarina Mendes conquistou ainda mais influência depois da Batalha. Terá tarefas exigentes: ganhar na Madeira e aumentar o resultado “poucochinho” das Europeias.
Ana Catarina Mendes. O nome não tem (ainda?) direito a um “ismo” que o acompanhe nem são muitos os que arriscam a pô-la na pole
position da corrida à liderança socialista no pós-costismo. Mas a secretária-geral adjunta do PS saiu do Congresso da Batalha com poderes e estatuto reforçados num partido que lhe atribui os louros de uma vitória tão esmagadora quanto inesperada nas últimas eleições autárquicas. Se antes do conclave socialista Ana Catarina – como é conhecida no PS – já era uma figura com peso no partido, agora domina completamente a Comissão Permanente (o órgão de gestão operacional do PS) e lidera a Comissão Nacional para a qual foi eleita como cabeça-de-lista de António Costa.
“Quem fica na Permanente são os mais próximos de Ana Catarina”, nota um socialista próximo de Pedro Nuno Santos, que tenta desvalorizar a saída de João Galamba daquele órgão, mas que não esconde ter sido apanhado de surpresa pela notícia de que Galamba deixará de ser porta-voz do partido. Esse papel passa para Maria Antónia Almeida Santos, que faz parte do círculo mais próximo de Ana Catarina Mendes. Ana Catarina e Maria Antónia são amigas e a cumplicidade entre ambas garante comunicações sem falhas ou sobressaltos. Estas movimentações significam que Ana Catarina está a posicionar-se para um futuro combate com Pedro Nuno Santos? Não necessariamente. Mas poderá ser o rosto dos socialistas que preferem puxar o PS para o centro.
Deputada há 23 anos, protagonizou uma das disputas mais violentas pela liderança da JS. Acabou por perder por apenas um voto para Jamila Madeira, numa história que deixou feridas abertas que só viriam a ser saradas com a eleição de Pedro Nuno Santos.
Tem estado quase sempre em posições discretas, mas currículo não lhe falta. Além da vasta experiência parlamentar foi uma das peças que ajudaram a montar a geringonça. Sempre na sombra, quando conseguiu os acordos foi ao Facebook explicar: “Em silêncio ao longo deste mês por razões evidentes, uma palavra a mais pode sempre estragar uma negociação.” Mas desde o início do ano resolveu, contudo, pela primeira vez, colocar-se sob os holofotes e protagonizar na TVI24 um debate semanal com um dos adversários internos de Rui Rio no PSD, Luís Montenegro. O programa dá-lhe uma visibilidade que até agora não tinha experimentado apesar da importância que já tinha no partido.
A mulher da missão impossível
Ana Catarina Mendes chegou a secretária-geral adjunta do PS em
ANA CATARINA FAZ PARTE DE UMA ALA MAIS AO CENTRO DO QUE PEDRO NUNO SANTOS
2015. O cargo não existia, mas António Costa criou-o para evitar o que tantas vezes acontece: que o partido ficasse adormecido por estar no Governo.
A sua primeira grande tarefa foi preparar as últimas eleições autárquicas. No PS poucos acreditavam que fosse possível superar a marca das 150 câmaras conquistadas em 2013. Mas foi: os socialistas venceram em 161 municípios, alguns deles tão improváveis e simbólicos como Almada e Barreiro, bastiões comunistas que passaram para o PS. No partido, ninguém hesita em atribuir-lhe o mérito deste resultado. E isso notou-se quando o vídeo exibido no Congresso sobre as autárquicas teve como banda sonora a música da Missão Impossível.
Isso notou-se também com as palmas que conseguiu arrancar quando apresentou a moção de António Costa ou quando o líder anunciou a intenção de a manter como secretária-geral adjunta.
O discurso de Ana Catarina no Congresso esteve longe de provocar o entusiasmo gerado pelas palavras de Pedro Nuno Santos, que foi defender a sua visão do socialismo à esquerda. Mas os aplausos que se ouviram foram os de um partido agradecido. Os partidos não esquecem quem lhes dá vitórias.
Ana Catarina Mendes está, aliás, em condições de dar pelo menos mais uma vitória histórica aos socialistas. Pela primeira vez em 40 anos, o PS acredita que pode ganhar as eleições regionais da Madeira. Antes, ainda terá de organizar as europeias – nas quais já fez saber não querer ser cabeça-de-lista – e conseguir algo acima do resultado “poucochinho” que levou Costa a desafiar a liderança de António José Seguro. “Ganhar” foi mesmo a palavra mais repetida por Ana Catarina Mendes no Congresso, onde quis sublimar o debate sobre se o PS está mais ao centro ou mais à esquerda ao afirmar que é “o partido da esquerda democrática, o partido progressista, das liberdades, da defesa radical da democracia” e que Costa “é o melhor herdeiro do legado da história do PS”. O estatuto reforçado com que sai do Congresso da Batalha faz, de resto, parte da estratégia de Costa de jogar em vários tabuleiros políticos. Ana Catarina representa uma ala muito menos à esquerda do que a encabeçada por Pedro Nuno Santos e o Congresso acabou com ambos – cada um à sua maneira – a reforçar o peso que têm no partido. O resultado é óbvio: António Costa capitaliza à esquerda e ao centro dentro do partido e parte para o ciclo eleitoral de 2019 com a ambição de ganhar votos nas duas áreas políticas.
EUROPEIAS, REGIONAIS E LEGISLATIVAS EM 2019, TRABALHO NÃO FALTARÁ A ANA CATARINA