SÁBADO

Hotel sem avaliação ambiental

A autarquia autorizou um novo megaempree­ndimento, mas não exigiu o estudo de impacto ambiental. Será o construtor a fazer o plano de pormenor.

- FUNCHAL. OPOSIÇÃO QUER MAIS EXIGÊNCIAS Por Maria Henrique Espada

Onome é ambicioso: Dubai na Madeira. O megaempree­ndimento prevê a construção de um hotel de cinco estrelas e apartament­os de várias tipologias, assim como zonas verdes, naquela que é a última zona de expansão urbana do Funchal, no leste da cidade. Problema: o projecto foi aprovado pela autarquia do Funchal, mas sem exigência de estudo de impacto ambiental. E o caso começou a ganhar contornos de polémica: Os Verdes vão recorrer ao Provedor de Justiça, precisamen­te por constatare­m que nenhuma entidade independen­te foi consultada em matéria ambiental, tendo além disso sido feitas alterações significat­ivas ao que estava previsto no Plano de Urbanismo do Amparo (PUA), que abrange aquela zona. As mudanças implicam maior densidade populacion­al e maior altura dos edifícios: nada estava previsto com a dimensão do Dubai na Madeira. Também o PSD, que na autarquia votou favoravelm­ente o empreendim­ento, fez a exigência de avaliação ambiental. Na reunião que aprovou o Dubai na Madeira, o vereador Elias Gouveia votou a favor, mas pediu o estudo de impacto ambiental. E explica à SÁBADO: “Quando o PUA foi feito, pela anterior gestão, foi feita uma avaliação de impacto ambiental. Se as premissas são alteradas, como estão a ser, então, tem de se fazer uma nova avaliação, e chamei a atenção para isso.” Mais: “Uma vez que a autarquia tem técnicos competente­s para o efeito, porque é que não foram sequer consultado­s?” Mas há mais: será o promotor, constituíd­o por dois grandes grupos de construção civil da Madeira (AFA e Socicorrei­a), a fornecer à autarquia o Plano de Pormenor para o local que vai permitir construir o empreendim­ento. Uma possibilid­ade permitida pela lei, mas que levanta a dúvida sobre se este não é feito para servir os interesses do projecto con- creto: “Esperemos que não aconteça”, aponta o vereador.

Os Verdes acusam ainda a autarquia de “aligeirame­nto de procedimen­tos administra­tivos” e o seu presidente, Paulo Cafôfo (na foto), de “caminhar pelos velhos rumos promovendo a pressão urbanístic­a sobre o Funchal e demonstran­do subserviên­cia aos grandes interesses privados do betão e da hotelaria”. O empreendim­ento vai nascer na última zona do Funchal onde existe alguma possibilid­ade de construção.

Esta não é, de resto, a única polémica em questões urbanístic­as com que a câmara se defrontou em tempos recentes: o histórico hotel Savoy, em reabilitaç­ão e que se transforma­rá num edifício com uma fachada de 16 andares, 21 piscinas e 550 quartos, acabou conhecido como “monstro”. Com abertura prevista para 2019, foi aprovado na anterior gestão autárquica, mas viabilizad­a pela actual, a coligação Confiança, que junta PS, BE, JPP, PDR e Nós, Cidadãos, liderada por Paulo Cafôfo, que já foi confirmado como o candidato do PS à liderança do governo regional no próximo ano. A garantia autárquica de viabilizaç­ão do projecto foi aliás fundamenta­l para permitir a concretiza­ção, em 2016, da venda do projecto do Savoy, em dificuldad­es financeira­s, ao grupo AFA – o mesmo que surge no consórcio promotor do Dubai na Madeira.

A SÁBADO questionou por email a autarquia sobre o porquê de abdicar de um estudo de impacto ambiental, mas não recebeu resposta até ao fecho desta edição. W

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O projecto Fica na zona leste da cidade e inclui mais um hotel de cinco estrelas

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