Estaline vive em algum PCP
E à picareta: um autarca comunista veio defender no Twitter a “justiça” do assassinato de Trotsky por um agente soviético. O partido não comenta.
A20 de Agosto, Filipe Guerra, cabeça-de-lista do PCP à Assembleia Municipal de Aveiro, onde é deputado municipal, publicou no Twitter: “Ramón Mercader, comunista catalão, preso político antes da República Espanhola e solto depois. Em Moscovo, tornou-se agente da NKVD. No México, foi torturado e passou 20 anos preso (cinco em solitária) após ter feito justiça a Trotsky em 20/8/1940. Herói da União Soviética. Faleceu em Havana.” Mercader, o agente que “fez justiça” a Trotsky no México em nome de Estaline, assassinou-o dando-lhe com uma picareta de alpinismo na cabeça. A observação não passou em claro: vários dirigentes do BE criticaram o tweet.
José Gusmão comentou: “O elogio público de um assassino.” À SÁBADO, não quis fazer mais comentários. Adriano Campos, também do BE, escreveu que são “militantes de um partido a defender memórias de execuções sumárias”. E Jorge Costa escreveu: “Um dirigente e autarca do PCP – contra as teses oficiais do partido – chama herói ao assassino de Trotsky. Do estalinismo sobra ainda este folclore odioso, feito à medida dos estereótipos da propaganda anticomunista da direita. Triste e intolerável.” O que mereceu de Filipe Guerra o comentário e que “este patego” estava atrasado na reacção. A discussão ficou pelo Twitter, mas curiosamente, Guerra não parece sozinho. O tweet da polémica teve 28 retweets e 51 gostos. A SÁBADO questionou formalmente o PCP sobre se se revê nas afirmações do seu autarca ou se, simplesmente, o partido tinha algum comentário sobre as mesmas, mas não obteve resposta. Também Filipe Guerra não respondeu às várias tentativas de contacto da SÁBADO.
Uma fonte conhecedora do PCP, que pediu para não ser identificada, considera que existe neste momento “uma corrente abertamente estalinista no partido, sem o cuidado que o PCP historicamente foi tendo de moderar em público essas posições, e que é muito minoritária mas não é marginal, e parece ser de alguma forma tolerada”.
E na discussão que se seguiu, o autarca continuou contundente: Mercader assumiu “uma tarefa arriscada (ao serviço do Estado), cumpriu e pagou caro”, e quando um interlocutor lhe diz que foi um acto “estúpido, vingativo e completamente desnecessário”, responde: “Não estou em condições de subscrever.” W