John McCain (1936-2018)
Derrotado por Barack Obama nas Presidenciais de 2008, antigo prisioneiro na Guerra do Vietname, o senador republicano era um crítico do populismo de Donald Trump
Considerado por alguns analistas como a “consciência crítica” dos republicanos, o senador do Arizona, John McCain, de 81 anos, que morreu no sábado, dia 25, na sua casa em Cornville, rodeado pela família e amigos, vítima de um cancro no cérebro diagnosticado em Julho de 2017, fez questão de deixar claro que não queria a presença de Donald Trump no seu funeral. Personalidade singular, tentou chegar à Casa Branca em duas ocasiões. Em 2000, perdeu a nomeação para George W. Bush; mas, em 2008, bateu os favoritos Rudolph Giuliani e Mitt Romney. Escolheu, então, para sua vice-presidente a polémica governadora do Alasca, Sarah Palin, defensora das teses Criacionistas (refutam Darwin e sustentam que a origem é Adão e Eva). Se tivesse triunfado, com 72 anos, seria o Presidente mais velho a ser eleito, mas Barack Obama arrasou-o com uma diferença de 10 milhões de votos.
De religião baptista e com uma costela escocesa (como se percebe pelo nome de família), filho e neto de almirantes, John Sidney McCain III nasceu na base aeronaval de Coco-Solo, no Canal do Panamá (então, sob o domínio de Washington), a 29 de Agosto de 1936. Devido às colocações do pai, frequentou mais de 20 escolas, até a família se fixar na Virgínia. Lutador de wrestling e pugilista, preferindo a Literatura e a História à Matemática, seguiu a tradição familiar e for- mou-se na Academia Naval dos Estados Unidos em 1958, tornando-se aviador naval.
Na Guerra do Vietname, na sua 23ª missão de bombardeamento, em Outubro de 1967, o seu aparelho foi abatido por um míssil, ele teve de se ejectar e, além de fracturar uma perna e ambos os braços, quase se afogava no lago Truc Bach. Transportado para a prisão de Hóa Lò (sarcasticamente, “Hanoi Hilton”), seria submetido a espancamentos e torturas durante cinco anos e meio. Para minimizar este crítico, Donald Trump afirmava que apreciava heróis que “não tinham sido capturados” – como se John McCain não tivesse várias condecorações (incluindo as concedidas por actos de heroísmo) ou fosse verdade a versão que Sylvester Stalone popularizou nos filmes Rambo.
NO VIETNAME, O SEU AVIÃO FOI ABATIDO. FOI PRESO E SUBMETIDO A TORTURAS E ESPANCAMENTOS CINCO ANOS E MEIO
Apoiante de Israel e opositor da indústria tabaqueira
Percebendo que não chegaria a almirante, John McCain aposentou-se em
1981 com o posto que, na hierarquia militar portuguesa, corresponde a capitão-de-mar-eguerra. Decidiu, então, viver no estado do Arizona, de onde era a sua segunda mulher (foi casado, em primeiras núpcias, com a modelo Carol Shepp), professora em Phoenix e herdeira de uma fortuna, Cindy Hensley – e, por isso, até mantinham declarações fiscais separadas. O congressista, que completaria 82 anos esta quarta-feira, dia 29 de Agosto, foi eleito para a Câmara dos Representantes em 1983 e, após dois mandatos, passou para o Senado. Espírito livre, para incómodo do seu partido, que o rotulava de “rebelde” (maverick), era capaz de votar ao lado dos democratas. E um diploma que tem o seu nome, a reforma nas leis de financiamento de campanha eleitoral, é conhecida como Lei McCain-Feingold, pois foi feita com o democrata Russ Feingold. Apoiante incondicional de Israel e opositor da influência da indústria tabaqueira; defendeu as duas guerras do Golfo, mas foi um crítico da tortura dos prisioneiros; era tolerante em relação à união civil entre homossexuais e autor de uma proposta para que fosse sendo concedida a naturalidade aos imigrantes ilegais. Mas tinha um péssimo temperamento. Chamou ao Presidente norte-coreano Kim Jong-un “um bebé com sapatos de salto”. Outra vez, numa discussão parlamentar com um senador do seu próprio partido definiu-o como “maldito idiota”. Em 1998, para provocar o Presidente Bill Clinton, perguntou de forma irónica, durante uma angariação de fundos no Arizona: “Porque é que Chelsea [Clinton] é tão feia?”