VIAGEM PELO YORKSHIRE: AS RUAS MEDIEVAIS DE YORK, A ARQUITECTURA DE LEEDS E O AROMA MARÍTIMO QUE SE SENTE EM HULL
No Norte de Inglaterra, o condado de Yorkshire é o maior do país e nas últimas décadas tem sido um dos locais de eleição para os turistas. A viagem a esta região resulta na descoberta de ruas medievais em York, da arquitectura inovadora de Leeds e do aroma marítimo de Hull.
“ACHO QUE NÃO conseguiria encontrar em toda a Inglaterra um lugar tão completamente afastado do tumulto da sociedade.” As palavras são de Catherine Earnshaw sobre o condado de Yorkshire no livro O Monte dos Vendavais , de Emily Brontë. Conhecido como o maior condado de Inglaterra, Yorkshire junta a natureza com a modernidade do século XXI e a preservação da tradição britânica. As irmãs Brontë, nascidas nesta região, são o expoente máximo da tradição artística da zona.
Para ser sincera, quando me surgiu a oportunidade de visitar o Norte de Inglaterra não pensei ficar deslumbrada. Admito: tenho Londres no top das cidades de que mais gosto. Sabia que a região de Yorkshire primava pelos espaços verdes e pelas tradicionais casas inglesas – erradamente acreditava que não passava disso. Foi surpreendente encontrar a cada esquina histórias de vikings e talhantes de tempos remotos. E também não esperava encontrar acidentalmente o local onde a famosa marca Marks & Spencer começou. Inglaterra não é famosa pela sua gastronomia ou pelas suas praias, duas coisas que os portugueses estão habituados a louvar diariamente, mas quando conseguimos ultrapassar essas duas ausências o país é realmente surpreendente.
EBORACUM, JORVIK OU YORK
Em 2018, York foi considerada pelo jornal britânico The SundayTimes a melhor cidade para se viver em Inglaterra
Considerada pelo jornal britânico The Sunday Times como a melhor cidade para se viver em Inglaterra em 2018, York, que fica na confluência de dois rios, o Ouse e o Foss, foi fundada pelos romanos e mais tarde considenente rada a capital do império
viking. Ao longo dos anos teve vários nomes – foi Eboracum para os romanos e Jorvik para os vikings.
Em pleno século XXI, a cidade ainda possui a essência dos tempos medievais. Personificando a típica turista, vi-me atraída em primeiro lugar pela catedral, York Minster. O impo- edifício do século VII é considerado uma das maiores catedrais no Norte da Europa e foi edificada segundo o estilo gótico. A visita à catedral e a subida até ao topo da Torre Central não é gratuita (a partir de £11, mais ou menos 12 euros), no entanto a vista sobre a cidade de York é impagável. Continuando o roteiro que me foi indicado por um funcionário da catedral, e que percebeu ao longe o meu ar estrangeiro, segui em direcção às muralhas. Tinha visto a sua enorme extensão do cimo da Torre Central. Comecei por percorrer as muralhas junto à catedral e guardei para mais tarde a outra metade perto do rio. Depois, olhei para o mapa improvisado e percebi que o seguinte ponto era algo que vi-
via sob o nome Shambles. Com várias paragens para indicações e alguma sorte à mistura, acabei por encontrar uma rua estreita com ar antigo e ladeada por edifícios de estilo Tudor. A rua estava apinhada por mais turistas que locais, que entravam e saíam das pequenas lojas com sacos cheios do que acreditei serem recordações. Entrei também numa loja para comprar um postal e aproveitei para perguntar onde podia encontrar um bom restaurante para almoçar. A indicação era clara: Mr. P’s Curious Tavern. A minha confiança nas recomendações locais não sairia defraudada. O restaurante era agradável e a comida tinha qualidade e influências latinas. Depois de uma pesquisa sobre a cidade percebi que a rua por onde andara a deambular já tinha sido uma zona de talhos. Aliás, a rua foi construída estreita para que a luz não entrasse pelas vitrinas e danificasse a carne. Hoje os talhos já não existem, mas a rua continua a ser um dos pontos mais visitados em York devido ao seu carácter único e pitoresco.
O ponto recomendado seguinte era outro tipo de atracção: o famoso espaço The York Dungeon. A fila à porta não enganava: tive de esperar alguns minutos por uma visita, mas a verdade é que valeu a pena (quando se entra os sustos duram 75 minutos de muitas maneiras e por muitas personagens que fazem parte da história e do passado de York). Para recuperar dos sustos, nada melhor que uma visita à York’s Chocolate Story (£12,50, quase 14 euros).
DOS TRANSPORTES FERROVIÁRIOS AO CHOCOLATE
York é conhecida também pela sua ligação à indústria ferroviária e ao chocolate. No século XIX, com a Revolução Industrial, tornou-se um dos mais importantes centros ferroviários do país graças ao financiador George Hudson, apelidado The Railway King. Esta proeminente indústria da região é celebrada num dos museus de York, o National Railway Museum. Através desta indústria surgiu uma outra que faz as delícias dos fãs de chocolate. A indústria ligada à produção de chocolate começou por volta de 1862 com as confeitarias Rowntree’s, Terry’s e Craven’s. Chocolates que ainda hoje são comercializados como o KitKat e o Aero tiveram a sua origem na cidade de York. Toda a história da confecção dos diversos chocolates está presente na York’s Chocolate Story, onde os visitantes podem conhecer os segredos e também provar e comprar diferentes tipos de chocolate. Todos os anos, esta ligação da cidade à gastronomia é celebrada no York Food & Drink Festival, realizado no mês de Setembro. Este ano será entre os dias 21 e 30 e
Desde a subida à Clifford’s Tower até às corridas de cavalos na York Racecourse, esta região tem várias actividades que atraem os amantes do ar livre
Q terá workshops em que os participantes podem provar produtos regionais e também aprender a confeccionar várias iguarias, incluindo chocolates. O festival decorre nas ruas de York e tem mercados locais onde se podem adquirir produtos da região e realizar provas vínicas.
LEEDS, O PARAÍSO DOS SHOPAHOLICS
A meia hora de comboio de York, Leeds é o paraíso de quem adora fazer compras. Com uma atmosfera diferente, é uma cidade inovadora, moderna e considerado um dos maiores centros financeiros de Inglaterra. Pendurada nas margens do rio Aire, começou por ser uma cidade marcada pela indústria têxtil no início do século XIX. Hoje tem vários centros comerciais com lojas com as marcas mais reconhecidas e de alta-costura. Desengane-se, contudo, quem pensa que Leeds tem apenas os típicos centros co- merciais com escadas rolantes e paredes cinzentas. Edifícios como o Trinity Leeds, o Victoria Leeds, o Thornton’s Arcade e o Leeds Corn Exchange são verdadeiras obras de arte da arquitectura. Com tectos abobadados, distintas paletes de cores e jogos de luzes que entram pelos telhados envidraçados, deslumbram os seus visitantes apenas pela estrutura e pela beleza.
Num contexto diferente, o Kirkgate Market representa o tradicional no meio de toda a inovação que caracteriza Leeds. Com um design mais antigo e simplista, este espaço lembra o Mercado da Ribeira, em Lisboa. Com pequenas bancas de produtos hortícolas regionais, cabeleireiros, cafés, floristas, entre outros, o Kirkgate Market foi também o local onde nasceu a Marks & Spencer, que ainda hoje tem lá um espaço que recorda os primórdios da marca.
Ao nível da restauração e de espaços de divertimento, Leeds tem muita oferta. Desta vez, as recomendações locais que recebi recaíram sobre os restaurantes Ox Club e Crafthouse. Mais uma vez, foi uma aposta ganha. Entre os
Com três pisos divididos em bares, espaços para eventos e um rooftop, o Belgrave Music Hall & Canteen é um dos locais mais procurados na noite de Leeds
Além de York, Leeds e Hull, as cidades de Sheffield e Bradford são outros locais muito procurados no condado de Yorkshire
espaços de divertimento nocturno, o Belgrave Music Hall & Canteen é o mais concorrido.
O TRIÂNGULO EM YORKSHIRE
O último vértice do triângulo a visitar em Yorkshire é a cidade costeira de Kingston Upon Hull. Conhecida apenas como Hull, tem tradição no comércio de vinhos e produtos piscatórios e começou a emergir recentemente como um dos destinos predilectos no Norte de Inglaterra. Uma das suas principais atracções é o aquário The Deep, local com muitas espécies marítimas que celebra esta ligação ao mar.
COMO É QUE SE CHEGA LÁ?
A maneira mais fácil de viajar para Yorkshire é apanhar um voo directo para Manchester e depois seguir durante uma hora de comboio até York. Por experiência própria, a melhor maneira de viajar em Inglaterra é de comboio, pois além do aluguer de carro não ser barato, ainda há toda a questão de conduzir pela esquerda. As cidades de York, Leeds e Hull ficam perto (meia hora a uma hora de distância entre elas), dependendo do trajecto escolhido, pelo que o aconselhável é ficar alojado numa delas e depois recorrer ao comboio para visitar a região. Para quem não abdica de ir a Londres, a capital britânica fica a apenas duas horas de comboio.
ONDE DORMIR?
Dentro das muralhas da cidade de York, o Hotel Indigo York tem cerca de 100 quartos mobilados com peças fabricadas na região e inspiradas na história de Yorkshire. A partir de £93 (cerca de €103) por noite.
ONDE COMER?
No The Shambles Market, o restaurante Los Moros é uma óptima opção para uma refeição rápida – até porque funciona em regime de take-away. A ementa tem influências da gastronomia do Norte de África.
O QUE VISITAR?
O Grand Theatre & Opera House e o City Varieties são os melhores locais em Leeds para visitar e assistir a uma peça de teatro ou a uma performance musical.
ONDE DORMIR?
A apenas três minutos a pé do centro comercial Trinity Leeds, o hotel Dakota Deluxe Leeds, com 84 quartos, é um espaço moderno com design minimalista em tons escuros. A partir de £100 (cerca de €111) por noite.
ONDE COMER?
Nas imediações do rio Hull, o restaurante Ceruttis é uma excelente escolha para provar os produtos típicos da cidade, nomeadamente os pratos de peixe.