QUEM TRATA DOS TWEETS DOS PARTIDOS
Rio foi acusado de pressionar uma jornalista, Costa criticado por causa de fotos e o PS até já teve de apagar um tweet.
PS e PSD têm equipas a gerir as redes sociais. Mas António Costa escreve a maioria dos seus tweets
Chegar a milhões de pessoas ao mesmo tempo de forma instantânea e em frases com um máximo de 140 caracteres. O Twitter é uma ferramenta essencial para a comunicação política e pode parecer fácil de usar, mas nem sempre é assim. Às vezes, dá asneira. Que o diga Rui Rio, que foi acusado de usar tweets para pressionar uma jornalista, ou António Costa, que viu uma publicação sua gerar uma onda de memes e até de informações falsas a circular na Internet.
O tweet laranja que azedou
Se, nos Estados Unidos, Donald Trump usou o Twitter para colar a expressão fake news a qualquer informação que lhe desagrade, em Portugal também já começa a haver políticos que não resistem a ir para a rede social atirar aos jornalistas quando o conteúdo noticioso não lhes agrada. Foi assim que Catarina Martins começou a reagir às notícias que davam conta do investimento imobiliário do vereador bloquista em Lisboa, Ricardo Robles. “Dois dias seguidos em que há capas de jornal falsas sobre o @ricardorobleslx quando há projectos d lei à espera d promulgação por Belém p reforçar o direito de preferência. Compreendo q o q o Bloco está a fazer incomode interesses imobiliários. Mas o Bloco não se deixa intimidar”, reagia a coordenadora do dois dias antes de Robles e o partido entenderem que a situação era insustentável e que a demissão era o único caminho. Muito mais cirúrgico foi o comentário do PSD a uma notícia do Público sobre as alegadas divisões que uma proposta na área da saúde estava a criar no partido. O Twitter social-democrata serviu para um ataque pessoal à autora da peça, que acabou por ser condenado pelo Sindicato dos Jornalistas (SJ). “A rigorosa Sofia Rodrigues do @Publico continua a sua cruzada e, hoje, “informa” que dois membros da CPN ameaçaram demitir-se. Estamos ansiosos pelo próximo trabalhinho para ficar a saber os nomes dos dois ameaçadores”, lia-se na conta oficial do partido. E ainda houve quem imaginasse ser apenas a expressão individual de algum colaborador para as redes sociais. Dúvida desfeita quando não só não houve demarcação da direcção, como cerca de uma hora depois
DIRECÇÃO DO PSD NÃO SE DEMARCOU DE TWEETQUE FOI CRITICADO ATÉ POR MILITANTES
a conta oficial insistia. “Na mesma ‘notícia’, a mesma Sofia Rodrigues anuncia que o documento do CEN para a política de Saúde já não vai ao Conselho Nacional. Falta apenas saber se também já alterou a ordem de trabalhos”, dizia o segundo tweet.
Tudo controlado pela direcção
Quem conhece os bastidores da gestão das redes sociais do PSD sabe que há pouca margem para desabafos individuais. “Todos os conteúdos são revistos antes pela directora de comunicação”, assegura à SÁBADO
uma fonte social-democrata, referindo-se à assessora de Rui Rio, Florbela Guedes, conhecida por se coordenar ao milímetro com Rio. De resto, o PSD tem uma equipa de seis pessoas na produção de conteúdos, das quais só três fazem tweets eo ataque à jornalista do Público foge ao registo habitual do partido no Twitter. Até aí era usado para partilhar agenda, remeter para artigos no site ou citar frases de Rui Rio. Isso mudará daqui para a frente? Não é possível saber, porque apesar das várias tentativas de contacto da SÁBADO, Florbela Guedes nunca esteve disponível e o secretário-geral José Silvano recusou comentar. “Quem pode falar sobre isso é a diBE,
rectora de Comunicação. Eu estou de férias. Não acompanhei nada disso. Não passou por mim”, limitou-se a dizer Silvano sobre um tweet que levou até alguns sociais-democratas a criticar o partido nas redes sociais.
“O PSD do Dr. Rio podia dedicar umas palavras à súbita paixão do Dr. Centeno por programas de ajustamento. Em vez disso, prefere entrar num processo de trumpização e entreter-se a atacar jornalistas”, escreveu o ex-assessor de Pedro Passos Coelho, Carlos Sá Carneiro, no Facebook, onde o militante do PSD e especialista em comunicação política Arnaldo Costeira também criticou o
tweet: “As redes sociais têm sido
O PS JÁ TEVE DE APAGAR UM TWEET PORQUE A IRONIA CAUSOU POLÉMICA
pródigas em dar material de estudo a quem se preocupa com os fenómenos da comunicação política. Este é mais um do que não fazer.”
Mas, afinal, como é que o PSD gere as suas redes sociais? Tudo começa com uma reunião semanal na qual se definem as prioridades da semana numa equipa que já conta com alguns não militantes. “Os mais novos são profissionais da comunicação sem ligação ao partido”, conta uma fonte do PSD, que explica que com Rui Rio a coordenação apertou. “Havia várias equipas de comunicação e passaram a trabalhar todas em conjunto”, diz a mesma fonte.
Os tweets são mesmo de Costa
A forma como o PS gere as redes sociais não é muito diferente da seguida pelo PSD. No Largo do Rato também há uma equipa de três pessoas a produzir conteúdos, coordenada por Duarte Moral, que arranca todas as semanas com uma reunião para definir conteúdos. “A secretária-geral adjunta, Ana Catarina Mendes, acompanha o que se faz, mas há confiança nas pessoas que estão a fazer o trabalho”, explica à SÁBADO Duarte Moral, que reconhece já ter tido de apagar um tweet por perceber que não estava a ter o efeito desejado. “O tweet sobre a delegação do CDS no Congresso do PS levantou alguma polémica e tomámos a decisão de o retirar. A ideia era brincar e ironizar. Não tendo sido entendido assim, não fazia sentido insistir”, explica o director de comunicação socialista, que também já teve de publicar um pedido de desculpas
por um elemento da equipa de comunicação ter publicado um tweet sobre o Sporting na conta oficial do PS pensando tratar-se da sua conta pessoal. “Assumimos o erro e fizemos um pedido de desculpas 14 segundos depois”, lembra Moral, que nem com toda a rapidez de resposta se livrou de notícias sobre o assunto. Polémica causou também o tweet de António Costa no dia em que lavrava o incêndio em Monchique. As fotos do primeiro-ministro no seu gabinete, a acompanhar os trabalhos de combate ao fogo à distância, incendiaram as redes sociais. “Já havia jornalistas a ligar a perguntar se ele estava nos Açores, em Espanha e em França, porque havia pessoas que diziam que o tinham visto lá”, conta uma fonte do Governo. A razão das perguntas eram as informações falsas na Internet, atrás da ideia de que as fotos tinham sido manipuladas, ou porque o fundo estava desfocado, ou porque Costa aparecia com duas capas de telemóvel diferentes. O primeiro-ministro estava mesmo em São Bento nesse dia, onde até deu uma entrevista ao Expresso ,ediz quem trabalha no gabinete que as fotografias publicadas nem são retocadas com Photoshop. Mais: é quase sempre o próprio primeiro-ministro o autor dos tweets publicados: “A maior parte das vezes, os conteúdos são sugeridos por ele, que manda um SMS com o texto.” Depois e porque em São Bento não há equipa para as redes sociais, fica a cargo dos dois assessores de imprensa alterar algumas frases para cumprir os requisitos de caracteres do Twitter ou procurar o hashtag que se deve associar à publicação.
Uma coisa é certa: apesar de toda a polémica que deu esse tweet , em São Bento não se pensa mudar de estratégia. “Vão continuar a fazer-se fotos de bastidores”, garante fonte governamental, lembrando que há muitas imagens desse tipo no Instagram de Costa e que o primeiro-ministro tenciona continuar a usar ao máximo as redes sociais. “Dantes havia comunicados, agora as redes sociais são a forma mais directa de chegar às pessoas.”