Alívio para a enxaqueca
As conversas com pacientes que sofrem de dores de cabeça de vários tipos e as entrevistas a médicos que usam estratégias diversas para as combater parecem ter dado à jornalista Susana Lúcio uma resistência maior às suas próprias dores de cabeça. Num fim-de-semana em família, que incluiu pesadelos nocturnos infantis durante duas noites consecutivas, ninguém dormiu e surgiu, quase inevitável, uma dor de cabeça. Mas (e é aqui que entra a parte da maior resistência) foi possível suportá-la sem recurso a qualquer medicamento. Depois de tudo o que tinha ouvido de pacientes e clínicos, Susana Lúcio sabia perfeitamente que a sua dor era quase ridícula quando comparada com as mais terríveis que lhe descreveram – em Portugal, a pior de todas, a enxaqueca, atingirá 10 a 15% da população. O trabalho que publicamos a partir da página 40 é essencialmente sobre os avanços da ciência para aliviar as dores insuportáveis, prolongadas e silenciosas que em média atingem três vezes mais mulheres do que homens, isto num momento em que um medicamento inovador vai entrar em Portugal.
“Não vá pela Marcelo Caetano”
A subeditora Sara Capelo já andava perdida nas ruas do Linhó (ela e o repórter de imagem Diogo Rodrigues) quando decidiu telefonar a Ana Maria Caetano a pedir-lhe ajuda para chegar ao local combinado para se encontrarem. Ia descrevendo as ruas e a filha do antigo chefe de governo ia confirmando se estavam a ir bem. Até ao momento em que teve de dizer: “Estamos agora junto à rua Marcelo Caetano…” Do outro lado, veio a indicação firme: “Não vá pela Marcelo Caetano.” Assim se fez. A justificação para Marcelo Caetano ter ali uma rua com o seu nome é fácil: tinha ali casa, onde ainda mora o filho Miguel. Cinquenta anos depois de Caetano ter sido escolhido para substituir Salazar, os filhos, Ana Maria e Miguel, recordam esse tempo decisivo. Memórias para ler a partir da página 48.
O médico sem telemóvel
A cumprir 50 anos de carreira, o psiquiatra Afonso de Albuquerque aceitou falar-nos da sua vida – que vai em 83 anos. O médico tantas vezes apontado como especialista pioneiro em stress pós-traumático em Portugal confessou que não pensa retirar-se e planeia escrever um livro. Durante a conversa com a jornalista Raquel Lito nem uma vez levantou a voz, nem ao contar a sua actividade contra o regime durante o Estado Novo. Quando viu a jornalista tirar uma fotografia com o telemóvel, não resistiu a sublinhar uma diferença: “Não tenho telemóvel. Não conheço ninguém que não tenha.” Mas observou a seguir que via sinais positivos na evolução da sexualidade através de aplicações de telemóveis, quanto mais não seja por se conseguir que as pessoas falem do tema. Há sexo, política, rebeldia, revolução, prisão e loucura na conversa que pode ler a partir da página 72.