JOSÉ PACHECO PEREIRA
Nunca houve tantos candidatos à chefia do Estado desde 1989 – quando o país voltou a viver em democracia plena. São 13. Mas estas são as figuras que realmente contam
Lula da Silva vai assistir na prisão à primeira volta das presidenciais, no dia 7, com a expectativa de que o seu “suplente”, Fernando Haddad, trave a “maré Bolsonaro”.
BOLSONARO,JAIR
Um Donald Trump brasileiro? A comparação é fácil, mas tem limitações. Trump, convém lembrar, tomou de assalto o Partido Republicano e foi eleito pelos trabalhadores braçais de uma América em ruínas, que a esquerda progressista abandonou. Bolsonaro tem um pequeno partido (o Partido Social Liberal), com pouco dinheiro e insignificante exposição televisiva. Para compensar, a presença nas redes sociais é esmagadora. Mas não é um outsider. Em rigor, Bolsonaro é um insider com três décadas de vida pública, ainda que habitando o “baixo clero” do Congresso, onde cumpre o seu sétimo mandato como deputado federal.
Além disso, os eleitores bolsonaristas não estão entre os pobres e pobremente escolarizados. Estão entre as classes médias e altas, com escolaridade ao mesmo nível. Pormenor importante: os jovens, que nasceram depois da ditadura, também estão com ele. Mesmo quando ele hesita, ou se nega, em falar de 1964 como um golpe antidemocrático.
Pode ganhar? O “primeiro turno”, com certeza. No segundo, se o adversário for Fernando Haddad do PT [ver HADDAD, FERNANDO], também existe a possibilidade real de o capitão do exército chegar ao Palácio do Planalto. Como democrata liberal, esse cenário provoca-me um arrepio pela espinha abaixo: o meu problema com o chamado “populismo” começa quando a eleição acaba, ou seja, quando o populista eleito pode finalmente deitar as mãos às instituições independentes que suportam uma democracia liberal.
Mas, curiosamente, estes arrepios não são sentidos por amigos meus, brasileiros, que não votam em Bolsonaro (na primeira volta), mas que se entregam a ele se, na segunda, houver a mais leve possibilidade de o PT regressar ao poder. “É em legítima defesa”, diz um deles.
Eis a primeira razão por que o Brasil considera Bolsonaro para Presidente: ele pode ser a última barreira para impedir que Lula [ver LULA DA SILVA], por interposta pessoa, continue a governar da cadeia – ou, em caso de indulto, fora da cadeia.
As outras duas razões resumem-se em números: 64 mil homicídios por ano e a mais profunda recessão económica da democracia brasileira sob o governo de Dilma Rousseff. Para usar o bordão que corre entre os apoiantes, “a violência é a nova inflação”. Para lidar com ela, Bolsonaro não hesita em prometer uma violência maior. A célebre frase “rouba, mas faz” deu lugar à “mata, mas limpa”. Em matéria económica, Bolsonaro tem um currículo que não o distingue da tribo estatista e patrimonialista do país. Mas, sob influência de economistas “neoliberais”, o candidato aceita agora as receitas da praxe: privatizações, baixa de impostos, controlo da despesa pública.
Não que Bolsonaro se aventure muito em matérias económicas: ignorante confesso da ciência, deixa essas questões para Paulo Guedes, um “Chicago boy ”eseu ministro-sombra para a Fazenda. “Ordem e progresso”, diz a ban-
OS ELEITORES BOLSONARISTAS NÃO ESTÃO ENTRE OS POBRES E POBREMENTE ESCOLARIZADOS. ESTÃO ENTRE AS CLASSES MÉDIAS E ALTAS