SERÁ QUE ESTAMOS EM 2018?
GOOD
É injustoque Jonathan Jeremiah tenha de ser um homem deste tempo. Era merecido que o seu contexto temporal fosse naquele período em que as calças apertadas e abertas no fim das pernas (à boca-de-sino ou pata de elefante) eram dominantes, as patilhas fartas e os bigodes a imagem de marca. Um tempo em que aparecer na capa do disco com um cigarro ao canto da boca não era problemático. Em Good Day Jonathan Jeremiah assume-se como o descendente por excelência (e mérito próprio) de Scott Walker ou James Taylor, mesmo que a espaços alguns dos seus arranjos musicais, ou até as orquestrações, estejam na senda daquilo que outros músicos britânicos contemporâneos, como Michael Kiwanuka, têm feito. A interpretação de Jeremiah está contagiada por um estilo e um groove tão genuíno que, às tantas, é preciso confirmar que
Good Day foi, de facto, lançado em Agosto de 2018 e não é um disco obscuro de soul pura, perdido na névoa dos 70s.
Good Day, quarto disco do cantor britânico, tem uma quantidade de canções que, ainda que às primeiras notas soem familiares, não se perdem numa tentativa de plágio encapotada. Jeremiah canta com a alma e sabe o que faz. O piano, os metais, a guitarra e o baixo acompanham a sua interpretação de modo a que, quase sempre, seja a voz o foco de cada canção. Além disso, tem a virtude de, ao longo do álbum, apresentar uma mão-cheia de músicas muito bem conseguidas. Mesmo naqueles momentos em que podia fazer apelo à lágrima, Good Day é um álbum focado num optimismo esperançoso, onde face à tristeza, até quando nada há a fazer, Jeremiah canta sobre tentativas e hipóteses, acreditando sempre que vale a pena.