BERGMAN ERA UMA ILHA
INGMAR BERGMAN – A VIDA E OBRA DO GÉNIO
DE FELIX MOELLER E MARGARETHE VON TROTTA Fra./Ale. • Documentário • M14 •90m
PAIS E FILHOS, isolamento e Deus, infância e velhice, liberdade e controlo, actrizes e amantes, ficção e autobiografia. Nada é deixado de fora (sem o publicitado voyeurismo de Bergman: a Year in
the Life, também deste ano), num trabalho monográfico que não enjeita os fantasmas pessoais do mestre sueco, sob a forma de um diálogo (a cineasta Margarethe von Trotta aborda tanto Bergman como a presença deste na sua própria vida e obra), por ocasião do centenário do nascimento. Começa e termina nas Ilhas Faroé, pátria íntima de Bergman, e em O Sétimo Selo
(1957), mas o medo da primeira idade surge sublinhado numa cena de A Hora do Lobo
(1968), quando o protagonista, interpretado pelo inevitável Max von Sydow, fala do guarda-fatos onde o pai o encerrava e um “homenzinho vivia, mordendo os pés das crianças mentirosas”, caixa de ressonância de Fanny e Alexandre (1982) e de certo pastor protestante.
A conversa com Daniel, um dos nove descendentes (reconhecidos) do cineasta, é de uma sinceridade abrasiva: a verdadeira família de Bergman era a arte; os filhos apenas faziam prova do amor de uma mulher, que logo o realizador largava.
Sem novidades para os bergmanófilos e ousadias formais ou conceptuais, não deixa de ser um óptimo documentário de acesso ao interior da mente de um artista.